quinta-feira, 21 de abril de 2016

Não ao obscurantismo


Eu tirei essa foto com o celular há algumas semanas, na avenida Osvaldo Aranha, de dentro da lotação. Era cedo, antes das oito da manhã, e a cena me chamou a atenção porque só havia mulheres na parada, com exceção de um senhor que fumava ali mais afastado.
Lembrei da foto por causa da polêmica matéria da Veja sobre a pretensa futura primeira dama do Brasil, e das discussões que se seguiram, como sempre em tom polarizado (pena), ainda que cheio de humor ( ufa).
Com o maior respeito às escolhas individuais, meu desconforto vem de antes e de algo mais profundo. Vem desde domingo. Sinto que estamos vivendo uma onda de retrocesso conservador cristão, com todos aqueles deputados falando em nome da família e de Deus e contra a mudança de sexo das crianças na escola (!!!!!). Percebo a fragilidade de tantos direitos adquiridos, direitos esses que como bem disse a Diana Corso na Zero Hora de hoje, estão "ainda nada afirmados e longe do ideal. "
Eu não votei na Dilma, nem gosto dela, menos ainda do Aecio, e desde que essa história toda começou eu fico em um lugar extremamente desconfortável, que é em cima do muro. Olho para um lado e para o outro. Leio muito, tudo que está à minha esquerda e à minha direita, penso, penso no esforço vão de tentar entender. Aos que necessitam de rótulos, podem me chamar de isentona, não ligo. Estou mesmo cheia de dúvidas e de medo.
Será que é possível pensar no bem individual sem perder de vista o coletivo?
Eu quero o fim da corrupção política, como todo mundo.
Também eu quero que as coisas melhorem, quero poder andar em segurança na cidade em que vivo, quero que meu filho possa continuar estudando na escola que pagamos com esforço, quero manter meus empregos e quero qualidade de vida. Quero poder viajar para a Europa, fazer academia e meus cursos de escrita. Seria hipócrita dizer que não. Tenho consciência de meu esforço pessoal e também da minha posição privilegiada, da qual não me envergonho ou orgulho. É como é, e sei que a vida é mais fácil para gente como eu.
Mas também quero que todos tenham acesso a um mínimo de dignidade, que a tal qualidade de vida seja um bem universal, assim como a saúde e a educação, a comida na mesa e o dinheiro no bolso. Quero que a minha família nada tradicional seja reconhecida como família, e que não sofra preconceitos de qualquer ordem. Que ninguém sofra, porque fachada não é casa. É cenário. Quero deixar Deus fora disso, porque tem gente que acredita, e tem gente que não. Quero dizer basta a radicalismos, discursos de ódio e rebaixamento de qualquer pessoa, seja por sua posição política, religiosa, social, quer seja por sua orientação sexual ou por gênero.
Quero que o feminismo e suas duras conquistas sejam valorizados, lembrados, incensados. (Porque é tudo ainda muito frágil). Quero que as mulheres possam escolher seus lugares, e serem respeitadas, sem distinção. Pela sua personalidade qual for, desde putas e santas, doidas e sanas. Com as saias na altura que bem entenderem. Belas, todas elas. E feras.
Quero, principalmente que as mulheres sejam respeitadas pelo seu trabalho, sim, não importa se dentro ou fora de um lar.
E, se isso tudo é utopia, que seja. Não sei mesmo viver sem sonhar.


PS: Quero ainda dizer que tirei essa foto cheia de orgulho dessas mulheres guerreiras.

Dani Altmayer


"É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância de um homem, somente um trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta"( Simone de Beauvoir)

Nenhum comentário:

Postar um comentário