sábado, 21 de março de 2015

Não é nada


Quando saio lá fora, e a noite está estrelada e escura como daquela vez, eu choro. 
Quando vejo a lua distante e fria sorrindo triste para mim, eu choro.
Choro quando pego o livro que levo uma eternidade para ler, e o aperto junto ao peito num abraço, encostando a tua letra bem desenhada no meu seio esquerdo.
Acho que leio apenas uma ou duas páginas por vez, só para me demorar, de propósito, e ter você na minha cabeceira para sempre.
"Olhe, o medo e a alegria não se excluem, como todos sabem. "
Quando ouço uma música e lembro de um dia perfeito, eu choro.
É bobo, eu sei mas não consigo evitar.
Não é que eu esteja triste, não o tempo todo, nem quase todos os dias. 
Mas quase todos os dias eu choro um instante que transborda.  
Não é que a vida não continue, ela continua, e cada vez mais rápida,  e cada vez mais intensa .
Acho que é por isso mesmo, porque a vida não parou para eu poder descer um pouco, que eu choro. Para descansar.
Porque não pude entender, nem parar, nem descer.
Menos ainda, escolher.
Lua, estrela, poema, poeta. O que me fode é esse romantismo idiota.
Às vezes nem é nada, o que me faz chorar.
Quase nunca, ou quase sempre, é nada.  
Talvez nem mesmo tenha sido, nunca, nada.
Então, é só uma saudade absurda do nada.
É só você, e eu, o que menos importa.
Ah, o amor não correspondido... É uma merda.
Parece tão injusto, e todo dia eu penso, é tão injusto.  Mas todo dia um eco me devolve:
- Esquece, o mundo não é justo.
E é por isso que eu choro, quase todos os dias.
Porque o mundo não é justo.
Como esquecer?


Dani Altmayer


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