terça-feira, 2 de setembro de 2014

Eu Te Amo

" ... dava muito valor á sua afeição e, sentindo que ele me achava a melhor moça do mundo, desejava que ele permanecesse nesse engano. E, sem querer, eu o enganava. Mas, ao enganá-lo, eu mesma me tornava melhor."
   (Tolstói in A Felicidade Conjugal)



Nada mais que clichê do que o amor.
E nada melhor do que amar.
Portanto, não dá para escapar. 
Tudo já foi dito antes, mesmo, e esta é uma realidade que somos obrigados a admitir. 
Não dá para ser original, no amor.
Então eu suspiro bem forte, como me ensinam na yoga. Sento na sala ensolarada e coloco um blues para tocar, em busca de inspiração.
Deixo o pensamento me levar.
O texto que preciso escrever é sobre a descoberta do amor. Pode ser a qualquer tempo. O primeiro, o último, o verdadeiro, ou apenas mais um.
Tenho que inventar uma história, enredo, personagem.
Mas tem uma pergunta que preciso responder, para conseguir escrever.
Como a gente descobre que está amando? 
Pela primeira ou décima vez, tanto faz.
É aí que entra o clichê. 
Que tudo bem, até pode ser clichê, mas é único e intransferível.  Clichê personalizado.
Para cada um bate de um jeito. O amor.
Para uns é o pulsar do coração que muda de ritmo.
A falta de apetite.
Um olhar perdido, um pensamento fugitivo.
Obsessivo. O primeiro, e o último do dia.
É o tempo, que voa sem querer.
Para outros é outra coisa. Como saber?
Para mim ...
Eu acho que a gente sabe que está amando quando se olha no espelho do olho do outro e gosta do reflexo que vê.
Quando o outro te faz querer ser uma pessoa melhor, mas acima de tudo, quando ele te reconhece e acolhe, imperfeito como é.
A gente sabe que está amando quando chega em casa, e tira a maquiagem e o salto, e põe a pantufa e a calça de moletom, e ainda assim se acha gostosa e linda, e o outro também. Morre de tesão.
Tesão sem fantasia.
A isso se chama paz.
E paz no amor é sentir-se em casa, é vestir-se de sorrisos, soltos e secretos. Perfumados.
A gente sabe que está amando quando consegue rir de si mesmo, rir da briga, rir à toa, e chora de emoção a toda hora.
Quando ri de tudo, e chora por nada, a gente sabe que está amando.
Quando fica à flor da pele, a pele exposta e nua, e não sente frio.
Quando é verão em pleno inverno, um verão interno.
Quando chove fora, e tem luz dentro. Porque tem sol nele, e ele é teu sol.
E o sol não te pode faltar. Esta falta nem se pode imaginar.
A gente sabe que está amando quando o simples fato de estar amando não consegue ser definido.
Quando falta palavra para o tamanho da coisa.
A gente sabe que está amando quando não consegue lembrar de um antes.
A gente sabe que está amando quando a gente percebe que tudo o que viveu até então foi um treino para poder saber que está amando.
Finalmente. 
Danem-se os clichês, se tudo já foi dito. 
Quando se está amando, nada mais reconfortante do que o óbvio.
A gente simplesmente sabe.
...
Que uma história de amor ainda precisa ser escrita.
E ela requer um "eu te amo", ainda inédito.


Dani Altmayer

"Ele abriu para mim toda uma vida de alegrias no presente, sem modificar nada nem acrescentar  o que quer que fosse além dele mesmo. As coisas já existiam silenciosamente ao meu redor desde que eu era criança, mas bastava que ele chegasse e tudo ganhava voz, e uma após a outra se convidavam para entrar em minha alma, enchendo-a de felicidade. (...) Eu ainda não sabia que isso era amor, pensava que era uma coisa que podia acontecer sempre, que esse sentimento ocorria sem motivo. "
 ( Tolstói in A Felicidade Conjugal)


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