quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Sem Rede


Todo encontro é também despedida, e partimos sem nem acabar de chegar.
Sinto saudade já durante o abraço, e depois, quando meus braços pendem soltos ao lado do corpo, sem ter onde pegar. Sinto dor enquanto sinto prazer, e depois, quando não sinto nada.
Estar com você é um malabarismo. Corda bamba, trapézio.
É como estar em dois lugares ao mesmo tempo.
Uma perna em cada lado. Um lado tão certo, o outro, errado. Nenhum lado, certo, ou errado.
Um meio, perfeito. O ponto exato onde nossos corpos se fundem. Onde o resto desaparece, em segundos. Eternos. Ali é onde sou mais feliz. No silêncio de nossos gemidos.
Depois vem a névoa,  quando a gente fala. As palavras me confundem, não quero ouvir, nem dizer. Só o olhar não esconde, não mente.
Estar  com você  é estar sempre de partida. Repartida, em metades. Metade que está, metade que é. Metade que dá, metade que rouba. Metade que ama, e outra que não.
Você diz que não ama. Eu sou a metade que sim.
Você precisa que eu vá. Eu preciso saber.
Ainda meio inebriada do gozo, eu vou. Saio trocando os passos, cambaleante. Embriagada de você.
É difícil partir, querendo ficar.
Mais um instante. Um desejo.
Eu te esperei por uma vida inteira. E antes.
Queria duvidar do teu não, confiar no teu gosto. Acreditar no teu beijo, sem fim.
Mas, sabe? Acho que não dou conta, sozinha. Metade é pouco, quando é tudo.
É como andar na corda bamba, mas sem a vara.
E eu não sei andar assim. Não me equilibro bem em nada que não tenha amor, no meio.
Porque amor, é isso. Amor é isso.
Centro de gravidade.



Dani Altmayer

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