terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Atrasados

De todas as coisas que o tempo rouba da gente, acho que o que mais dói é justamente o tempo, roubado.
O tempo roubado das coisas que são importantes.
A correria, que rouba o momento, de um beijo roubado.
O cronômetro interno que não perdoa, sempre ligado.
Nem bem bem chegamos e já é hora de partir.
Não dá tempo de se deixar ficar, deitar na rede, adormecer. Amanhecer.
Somos como o coelho da Alice, estamos sempre atrasados. Temos pressa.
Olhamos o relógio, já é tarde. Sempre é tarde, às vezes nem é. É até cedo, demais. Só que nunca está bem na hora.
A hora exata não sabemos de quê.
Hora de dormir, acordar, trabalhar, comer, malhar, pedalar, correr, descansar, comprar, arrumar, fazer amor, desfazer. 
Hora de pegar o ônibus, o avião, o filho. Hora de viajar, de voltar, de postar, de cumprir. Hora da reunião, da missa, da meditação. Hora do happy hour. Hora feliz, com as horas contadas.
Temos hora para tudo, e tempo para nada. 
E é deste tempo que sinto falta. Do tempo da semente, que não é o tempo da gente. 
Nosso tempo é inventado, não sabe esperar. Máquina de fazer loucos.
De tudo que a vida me tirou, só queria que ela me devolvesse o tempo que me roubou. 
Um tempo sem hora marcada, sem relógio, sem prazo. 
Um tempo feito férias, feito criança, feito paz. Feito só de presente.
Um tempo devagar, para divagar, para sonhar. Para parar, olhar e escutar.
Tempo para criar, e viver.
Um tempo para pensar, para sentir, apreciar, refletir. 
Para deixar acontecer, deixar rolar, deixar-se estar.
Tempo para sorrir, ser feliz. Mesmo um tempo para chorar, e sofrer.
Um tempo para fluir. Um tempo rio, um tempo mar. O tempo de amar.
Um tempo ar, um tempo terra. Um tempo do fogo, que arde e queima a seu tempo, lentamente. 
Um tempo diferente, que não se mede no ponteiro, que não tem compromisso importante, Não tem pressa de chegar, nem ânsia para acabar.
Que dura, exatamente o instante que tiver que durar. Eternamente.
Hoje, eu só queria saber como recuperar. Ter de volta, o tempo perdido, roubado. Tempo que eu mesma perdi ou roubei.
Este tempo da gente, que também é semente, e precisa de tempo. Para germinar. Florescer. Desfrutar. Amadurecer.
E depois, como tudo tem seu tempo, morrer.

Dani Altmayer




Um comentário:


  1. Eu também queria que a vida me devolvesse o tempo que ela me roubou.
    Gostoso de ler.

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