quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Um mundo de saudade


Tem dias em que a gente fica cheia de saudade. Hoje é um desses dias. Mas senti uma saudade diferente. Senti saudades dos meus livros. Senti saudades das histórias que povoaram minha infância e minha adolescência. Nem lembro mais os nomes da maioria dos livros, mas, olhando a chuva que cai pela janela, senti saudades deles. Comecei a ler muito cedo, e foi paixão à primeira vista. Amor incondicional. Vivia com o nariz enfiado em páginas de aventuras e romances. Já tive o dedo verde, joguei o jogo do contente, me arrepiei com os morros que uivavam. Plantei um pé de laranja lima, e chorei. Chorei também com Romeu e Julieta, sonhei com príncipes encantados, dormi com fábulas de todos os tipos. Já me chamei Brida e tinha um pônei lindo, foi quando me apaixonei por cavalos. Tive um cachorrinho chamado Samba. Investiguei mistérios, catei conchas, naufraguei em uma praia qualquer. Descobri na areia os capitães. Já tive uma leveza insustentável, e muitos e muitos anos de solidão. Construí igrejas na Inglaterra, lutei guerras de todos os tipos, até as frias. Superei obstáculos, fui orfã e depois adotada.Vivi com meu avô em uma montanha, e me chamava Heidi. Cuidei de pássaros feridos, mais de uma vez. Morei em uma casa cheia de espíritos e cresci acreditando ser uma pequena princesa. Brinquei com fantoches de Deus, viajei com um príncipe pequeno, e ele me ensinou que somos responsáveis por aquilo que cativamos.
Viajei com ele e com muitos outros, por planetas, mares e terras muito distantes. Conheci vários países, inúmeras cidades. Dei a volta ao mundo umas mil vezes, pelo menos. Acreditei todas as vezes em amores verdadeiros, mais de mil, ah sim, bem mais de mil vezes. Aliás, continuo acreditando. Sequelas. Li livros sem capas, amarelados, e roídos pelas traças. Li e reli quase todos. Alguns "treli."Poucos deixei de lado, quase nenhum não terminei. Eles eram meus melhores amigos. Meu jardim secreto. Ali se escondia uma menina tímida, que se via desajeitada e feiosa. Que não sabia muito como participar. Era naqueles livros que ela achava um consolo, uma magia e a alegria imensa de pertencer.
Talvez seja a época do ano, uma época de reavaliações. Talvez eu sinta falta é daquela garotinha de óculos e com a  cabeça cheia de imaginação. Dela, que se perdeu de seus maiores amigos quando precisou crescer de verdade. Dela, que tinha o coração maior do mundo, onde cabiam todos os sonhos, de todos os mundos. Não sei. Mas hoje senti saudades dos meus livros antigos, e há muito perdidos nas prateleiras do tempo. Senti saudades das histórias da minha vida. Da minha vida, repleta de histórias.

Dani Altmayer

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