sábado, 8 de dezembro de 2012

Só estrelas o tempo não leva

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O tempo é engraçado, e nos prega peças. Ele não cura tudo, nem traz todas as respostas. Mas muitas vezes, ele some com as perguntas. Quanto de nosso tempo gastamos com frustrações, pensando em desejos e sonhos que nunca foram realizados, e que hoje, na verdade, não tem mais a menor importância? Dos quais já nem mesmo lembramos? Porque as coisas mudam, o tempo todo. E nossos desejos e sonhos também.
Eu lembro que,há uns muitos anos, meu sonho era morar em uma casa ou prédio onde houvesse uma piscina. Não porque eu  fosse gostar de nadar na piscina, mas eu queria um lugar para tomar sol. Ficar bronzeada. Achava lindo ficar bronzeada. Não aconteceu, não tive a minha casa com piscina, nem sei porquê, tem uma poça d`água em cada prédio nesta cidade. Mas não calhou, foram outras escolhas.E hoje, isto não faz a menor falta, porque eu simplesmente detesto ficar torrando ao sol. Gosto sim, do sol, para caminhar na praia, andar de bicicleta, aproveitar o dia, enfim, qualquer coisa que signifique movimento. Não tenho mais paciência para ficar virando, feito galinha na TV de cachorro, e assar todos os lados por igual. Nem paciência, nem idade, sendo bem honesta. Quando as rugas falam mais alto, as prioridades mudam.
Há um tempo eu tinha o desejo de viajar o mundo todo. De viajar o tempo todo, e conhecer todos os lugares. Também não aconteceu, pouco provável que aconteça. Não sonho mais com isso. Ainda amo viajar, e viajo. Mas me permito repetir os destinos, se meu coração assim o pede, duas, três, cinco vezes, sem culpas. Porque a melhor viagem é aquela que você faz com seu bolso e sua alma leves, em igual proporção. E aprendi que viajar não te leva para longe de você mesmo, e isso não é um clichê, mesmo sendo. Entendi que, se eu estiver bem, uma travessia de balsa até São José do Norte pode ser um belo passeio. Agora, se eu estiver mal, nem Paris resolve, mesmo o dito popular falando que é sempre melhor sofrer em Paris. Não acho, prefiro chorar no meu travesseiro, é mais barato, e me conhece, também. Em Paris quero mais é ser feliz.
Antes, eu achava que tinha que ler todas as notícias, assistir a todos os jornais, estar sempre antenada, por dentro de tudo que acontecia. Hoje prefiro a ignorância, e a escolho, sempre que posso. Ganho em paz, a paz dos ignorantes, que seja, mas ainda assim, paz.
Eu adoro ir ao cinema. Antigamente ficava angustiada por não poder assistir a todos os filmes que queria. Passei muito tempo só vendo filmes infantis, e olha, aprendi a amá-los, e aprendi muito com eles. Hoje até sinto falta. Agora, que já tenho minha liberdade condicional, eu olho o jornal, e escolho cuidadosamente um ou outro filme, geralmente fora do circuito de blockbusters. Tenho um acerto de 90%, o que não é nada mal, nas minhas escolhas (de filmes, que fique bem claro). E continuo não podendo ver todos. Não se pode ter tudo, assim é a vida, algumas coisas sempre se perdem no caminho. E o mesmo vale para livros, outra paixão. Entrava em uma livraria, e era aquela festa do consumo. E da ansiedade, pois, mesmo sendo compulsiva assumida, existe limite no cartão de crédito. Saía com a sensação de ter deixado algo para trás, com a sensação de que estava perdendo alguma coisa. E estava, não estamos sempre? Para cada escolha uma renúncia.
Um dia também sonhei com uma vida tradicional, com uma família convencional. Faz tempo isso, acho que foi em outra existência. Ao menos parece.Também não aconteceu, Foi tudo muito diferente do que pensei que seria. Mas é tão autêntico e tão verdadeiro o que tenho, que não poderia querer outra coisa para a minha vida, agora.
O tempo, este senhor inclemente, ele nos prega peças. Não, ele não tem as respostas. Ele realmente muda as perguntas. Ou some com elas. Mas os sonhos não morrem, são como a natureza. Apenas se transformam. A gente, enquanto não morre, se transforma. Tudo muda, o tempo todo. Hoje as minhas estrelas, o meu céu, os meus desejos, não são os mesmos de ontem. Hoje a minha felicidade é uma manhã de domingo, pedalando com o meu filho na orla do Guaíba. É sentir o vento no cabelo, o sol no rosto, este sol que adoro e que não me bronzeia mais, porque não desejo mais.
É a alegria antecipada do encontro que terei em breve, de segurar nos braços uma bebê muito amada, e reencontrar suas mães também muito amadas. É a minha família, espalhada e estranha, se reunindo no final do ano. É a expectativa de férias, de uns dias junto ao mar, de uma vida mais simples.
A minha felicidade, hoje, não está mais em esperar o impossível acontecer. Está em fazer da minha vida algo realizável, a cada dia. Sem deixar de sonhar, nem por um dia.

Dani Altmayer

2 comentários:

  1. Muito lindo, muito real para muita gente. E tens razão, enqto estivermos transformando nossos sonhos,sinal de que estamos avançando. É muito bom te ler. :-) bj, julia

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  2. Oi Julia, obrigada! É muito bom te ter como leitora...:)

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