terça-feira, 27 de novembro de 2012

Sem vergonha

 Escrever é como fazer um striptease. Só que da alma. Às vezes você vai meio sem jeito, tímida. Tira uma ou duas peças e mostra só um pouquinho. Deixa entrever, apenas. Outras vezes, mais corajosa, você tira tudo e fica nua. Exposta, literalmente.
 Algumas vezes a roupa nem é sua, você toma emprestada. Quem escreve está sempre tomando emprestado, não repare. Uma história aqui, outra ali, o trecho de uma música , o cachorro manco do vizinho. Não importa, tudo vira assunto dentro de uma cabeça que escreve. É um perigo, já vou avisando. Mudam-se os nomes, as datas e os lugares, mas, quando menos se espera, lá está seu vexame, ou seus casos, descritos e narrados com (quase) todas as letras. São os riscos de  se relacionar com este tipo de gente. Frases de filmes, textos que você lê e pensa: queria ter escrito isso! Tudo é assunto. Ou vira assunto.

 Mas,  de verdade mesmo, o que a gente mais revela, quando escreve, é a gente mesmo. Não importa se está se escrevendo um conto, um romance ou ficção científica. Crônicas, ou poemas. Sempre vai um pedação da gente junto, seja na idéia em si, sejam nos sentimentos ou em uma opinião pessoal. Às vezes a gente vai inteira mesmo, aos borbotões. Ou aos pedaços, se despedaçadas estamos. Mas vai junto em cada texto, em cada palavra,sim. E o legal é que de vez em quando estes pedaços da gente encontram outros pedaços, que se identificam, riem ou se emocionam com aquilo que a gente escreveu.
  Escrever é como fazer um striptease. É uma entrega. Você se mostra e se esconde, em diferentes proporções. Mas é sempre uma entrega. Com resultados variáveis. Porque, a não ser que você seja uma profissional na área, nem sempre vai dar certo. E pode até sair tudo muito errado, e você ficar ali, nua e vulnerável, na sua falta de jeito. Mas pode que não, né? Pode até funcionar. Requer coragem este tipo de sedução. Mas, quando dá certo, e os tais pedacinhos da gente se encontram com os dos outros, ah, não tem celulite ou pudores que nos convençam do contrário: vale muito a pena. Vale desnudar a alma, e se mostrar. Sem vergonha.

Dani Altmayer

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