domingo, 11 de novembro de 2012

Histeria



         
 Neste fim de semana assisti a um filme inglês chamado Histeria. "A palavra tem origem no termo médico grego hysterikos, que se referia a uma suposta condição médica peculiar a mulheres, causada por perturbações no úterohystera em grego. O termo histeria foi utilizado por Hipócrates, que pensava que a causa da histeria fosse um movimento irregular de sangue do útero para o cérebroNas palavras de Freud: "O nome “histeria” tem origem nos primórdios da medicina e resulta do preconceito, superado somente nos dias atuais, que vincula as neuroses às doenças do aparelho sexual feminino." (Wikipedia).
        O filme é uma comédia, aborda o tratamento utilizado por dois médicos na cura desta suposta doença feminina, ambientado na Londres de 1880, século XIX. É engraçado, poderia ser mais, mas é, acima de tudo, interessante. Retrata bem as condições de vida das mulheres há apenas 150 anos. Mostra que percorremos um longo caminho, de lá para cá.
         Estou longe de ser feminista, e acho que as mulheres podem ser umas chatas, muitas vezes. Mas o filme me fez pensar no quanto conseguimos conquistar. Nós, mulheres nascidas no século XX, e estas meninas de hoje, que já nasceram no século XXI, não temos muita noção desta trajetória. Naquela época, a mulher não podia votar, não podia estudar, cursar universidades. Era basicamente preparada para o casamento e filhos. Tinha a vida limitada a obedecer ao marido, cuidar da casa, bordar e, talvez, tocar um instrumento musical. Não participava de decisões políticas ou sociais. Não tinha poder algum.
         Estas mulheres estavam insatisfeitas, como bem mostra o filme. Lá pelas tantas o médico diz que a maioria das mulheres de Londres sofria de histeria. Doença esta que era bem abrangente, em termos de sintomas, variando desde uma leve melancolia até crises psicóticas. Ele estava enganado. Elas não tinham era escolha, perspectivas. Não tinham vida própria. Sua vida sexual era destinada à reprodução, acreditavam não ter direito ao prazer.
         Muita coisa mudou, ainda bem. Ainda existe um ou outro resquício desta época em nossa sociedade, e na cabeça de alguns homens e mulheres, isso é certo.  As mulheres ainda são consideradas loucas. Algumas ainda acham que precisam de um homem para sentirem-se protegidas e seguras. Alguns homens também pensam assim. Mas cada vez menos.  Ainda somos, sempre seremos, resultado de uma combinação maluca de hormônios. Que nos enlouquecem tanto quanto aos homens. Mas que não nos impedem de sermos, muito além de mães e esposas, médicas, engenheiras, advogadas, diretoras, presidentes, artistas, ou seja lá o que for, o que nos der na telha. Não nos impedem de poder sonhar, amar e relacionar-se livremente. De sentir prazer. De dizer sim, e dizer não. De sermos respeitadas. De estarmos no comando de nossa própria vida.
        Se louco é alguém que você nano consegue explicar, acho que sim, sempre seremos um pouco loucas. Bom, nem Freud conseguiu entender o universo feminino, depois de 30 anos de estudo aplicado. "Afinal, o que querem as mulheres? " Esta continua uma pergunta difícil de ser respondida, senhor Freud.  Queremos tudo, sempre, e mais.
           
          Em tempo, o diagnóstico de histeria só terminou oficialmente  em 1952.

"Em 1857 a lei do divórcio foi aprovada e, como é bem conhecido, definiu legalmente diferentes 
parâmetros morais para homens e mulheres. De acordo com essa lei, um homem poderia obter a dissolução de seu casamento se ele pudesse provar um ato de infidelidade de sua esposa; porém uma mulher não poderia desfazer seu casamento a não ser que pudesse provar que seu marido fosse culpado não apenas de infidelidade, mas também de crueldade". 
(Millicent Garrett Fawcett, em seu livro "O voto das mulheres", publicado em 1911)

"Era um período estranho, insatisfatório, cheio de aspirações ingratas. Eu a muito sonhava em ser útil para o mundo, mas como éramos garotas com pouco dinheiro e nascidas em uma posição social específica, não se pensava como necessário que fizemos alguma coisa diferente de nos entretermos até que o momento e a oportunidade de casamento surgisse. melhor qualquer casamento do que nenhum, uma velha e tola tia costumava dizer.
A mulher das classes superiores tinham que entender cedo que a única porta aberta para uma vida que fosse, ao mesmo tempo, fácil e respeitável era aquela do casamento. Logo, ela dependia de sua boa aparência, nos conformes do gosto masculino daqueles dias, de seu charme e das artes de sua penteadeira".
(Charlotte Despard, memórias não publicadas, registro de 1850)

Nenhum comentário:

Postar um comentário