segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O dia dela

  Dia 20 de novembro, no Brasil, é o dia da consciência negra. Dia 20 de novembro, para mim, é o dia do aniversário de uma das minhas mães (tive duas), que, por coincidência, era negra. Era, porque não está mais neste planeta, há 12 anos. Parece tanto tempo, mas também parece que foi ontem. Ainda tenho saudades. Saudades de sua gargalhada gostosa, debochada. Da mão áspera, com cheiro de cebola. (ela cozinhava maravilhosamente). De sua conversa fácil,  de seu colo macio, de ser muito mimada. De ouvir uma fofoca, e escutar o CD de fim de ano do rei. De pedir algo, e ouvir um" agora depois". De não ter nenhum pedido negado. De ser amada  incondicionalmente. De levar bronca sim, mas bem de leve, porque ela não sabia ficar braba por muito tempo. Sabia, isso sim, defender com unhas e dentes, cada um de seus quatro filhos. Ai de quem nos fizesse algum mal. Uma vez, em um show no clube da praia (ela adorava um show), chegou a empurrar, dançando, a menina que estava com o cara que eu gostava. E depois se matou de tanto  rir. Saudades dela, de sua alegria, de sua presença firme, da sua nêga maluca.(fazia um bolo como ninguém).
   Vinte de novembro, dia do aniversário dela. Dia da consciência negra. Anda rolando no facebook um vídeo com o ator americano Morgan Freeman, que fala justamente deste assunto. Ao ser perguntado sobre o que ele pensava sobre a data correspondente nos EUA, ele responde: ridículo. Ridículo. A história do negro é a história da América. Pare de me chamar de negro, e eu paro de te chamar de branco. Simples assim. Brilhante.
   Não sei se é porque a minha história é a história dela. Se porque cresci, e convivi, por 31 anos com uma das pessoas mais lindas e puras que já conheci. Uma mulher maravilhosa, que, por acaso, tinha a cor da pele diferente da minha. Puro acaso. Acho que por tudo isso, ou por nada disso, sei lá, mas concordo com o Morgan Freeman. Isto tem que acabar. Teve sentido, talvez, um dia, todas estas datas em homenagem às classes menos favorecidas: negros, mulheres, índios, gays e etc. Historicamente fez sentido. Para alguns talvez ainda faça. Na minha opinião, isso tudo é ainda uma forma de discriminação. De julgar diferente o que é realmente diferente, mas só o é na superfície. O medo do que não é espelho. Narcisismo, ou egocentrismo. Dê o nome que quiser. Por temer o desconhecido, eu me defendo, atacando. Ataco, sem pena. Para provar que sou melhor que você, começo uma guerra. Preconceitos, de todos os tipos, são a causa da maioria dos conflitos que enfrentamos no mundo, atualmente. Idéias pré concebidas, ultrapassadas, e estanques. Em um mundo em constante transformação, em um planeta globalizado.  Como pode ainda ser?  Talvez (?) uma boa hora para se rever conceitos.
     Em tempo, o nome dela era Dolores, a Pia. O meu, Daniela. E você, como se chama?

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