domingo, 31 de outubro de 2021

Sons do plantão




Toca ao longe, insistente. Um alarme. Para e toca, toca e para. As motos rosnam furiosas, escapamentos adulterados, os homens e seus brinquedos. Carros em excesso de velocidade, gente em excesso de velocidade. A janela aberta e um vento quente, o preço da gasolina esse absurdo,  é domingo e quase feriado, as bruxas estão soltas, eu não. Estou presa à beira da ciclovia, e pela janela olho as nuvens lá no alto, corrediças e gordas, embaixo vejo os veículos e seus motores, há muito ruído para um domingo, o alarme volta a soar, toca, toca. Daqui a pouco para. Uma sirene abafa o som com outro som, mais estridente, mais agudo, mais pungente. É sempre doloroso o som das sirenes. Ambulâncias, polícias, bombeiros. Não importa, é sempre dor. Diferente do alarme chato e irritante, que é só um dono distraído que esqueceu dos ouvidos alheios, as sirenes acionam outras coisas, o medo, a angústia, uma bomba, anunciam tragédias- onde não sei, já passaram, velozes, mas o alarme volta a gritar. E as motos adúlteras. E os carros. A pressa. O tempo aprisionado faz barulho demais, na tarde deste domingo azul.

Nenhum comentário:

Postar um comentário