domingo, 18 de outubro de 2020

Dezoito de outubro


 Eu já contei uma história de amor sobre ela, há uns anos. Fazia tempo que não aparecia, olho o prontuário. Teve um câncer e um infarto no ano passado. É diabética com um controle ruim. Vejo que está tomando remédio para depressão. 

Entra na sala abatida, bem mais magra. Fala do filho, de um neto a caminho, mas conta sem brilho. Fala de uma dor na coluna. Tem a desesperança estampada no olhar, nos ombros caídos. É uma mulher bonita. A gente conversa por um tempo, faço o encaminhamento para a fisioterapia.
Uma semana depois, ela volta. Quer tirar uma dúvida, porque confia muito em mim.(sic)
No fim da consulta, ela me diz, com lágrimas nos olhos:
- Sabe que na semana passada saí chorando daqui? De felicidade, doutora, de te encontrar de novo, de conversar contigo. Tu me faz muito bem.
A fala dela me toca e me deixa contente comigo mesma.
Porque para mim, antes de tudo, a medicina é sobre isso.
É escuta e é amparo.
"Curar algumas vezes, aliviar quase sempre, consolar sempre."

Num ano de tantos desafios, meus parabéns a todos os que dividem comigo o juramento de Hipócrates.
Que possamos ser não heróis, mas humanos a serviço de seres humanos.
Que sejamos o melhor que podemos ser.
Obrigada!

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