quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A gente ama o que reconhece


Todo mundo tem uma história. Todo mundo é uma história.
Se para cada pessoa que a gente encontrasse, houvesse um livro correspondente, seria tão mais fácil amar.
Porque para amar, é preciso conhecer. E poder entender.
Quantas vezes nos pegamos, no meio de um livro, quase torcendo para o vilão? Quantas vezes os perdoamos porque compreendemos que as coisas não foram fáceis, porque conseguimos enxergar através do seu ponto de vista, porque sabemos de seus motivos, mesmo sem concordar?
-Ah, ele não é tão ruim assim- Ninguém é tão ruim, assim.
Desde o dia em que nascemos, a nossa vida vai sendo escrita, dia após dia, nas páginas de um livro que nunca será impresso. Pior, que talvez nunca seja lido, nem pela gente mesmo. 
Quem tem paciência para ler, hoje? Só com muita sorte, para encontrar alguém disposto a se colocar no lugar do outro, e percorrer alguns capítulos de uma outra história. Ou muita coragem, para abrir o livro nas partes mais assustadoras e difíceis da nossa própria.
Em tempos de fast tudo, ninguém mais tem tempo para se interessar. E menos ainda, para deixar-se envolver nas tramas de um romance inacabado, antigo, e muitas vezes, até bastante complicado.
Ler alguém é um ato de empatia e respeito.
No entanto, para se ler um outro, é preciso ir além da capa. É preciso que o outro se mostre, também. Que se deixe conhecer, desvendar. 
É preciso descobrir que a cara feia não foi para você. Ele teve um dia difícil, se incomodou com o trabalho, perdeu a lotação, ou está com uma baita dor de dente.
Ela está naqueles dias, tem um trauma de infância, e você nem sabia. Foi falar que ela estava gostosa. Gorda, já pensa. "Me chamou de gorda. " Como os guris, na escola.
Você está aqui, agora. Mas não veio do nada, e nem por nada. Teu passado não te condena, nem te define. Mas te carrega. Não tem como escapar das dores vividas, nem tem jeito de reviver as alegrias já perdidas.
Essas estão impressas, só que não no papel. Estarão nas cicatrizes indeléveis que todos temos, no corpo, e na alma.
A cada dia que nasce, uma página em branco é colocada à nossa frente. A gente até ganha, então, a chance de escrever mais bonito, ou de uma forma bem diferente. Muda as palavras, mas é sempre uma continuação, o desdobramento de um livro para sempre incompleto e sempre complexo. 
Por isso, a não ser que se perca a memória, nunca se vai poder fugir da própria história. Do próprio livro, que nem todos vão saber, ou mesmo, querer ler.
Porque a questão é que só a quem ama, essa história importa e faz algum sentido. 
E só se importa, quem realmente te ama. E te dá um sentido.

Dani Altmayer


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