sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Por Onde Andamos?

                                                            Oú êtes tu?
        "Onde esteve?
        Onde estás ?
        Andei sem destino, esta corrente leve e mansa me levou a lugares insólitos.
        Aprisionado à tua imagem.
        Hoje estou aqui no meio do nada.
        Sem força para continuar.
        Sequer uma brisa para me levar
        E onde andas que não vem,
        minha corrente doce, imaginaria, me envolver com tua força e me buscar?
        O inverno levou meu vigor para remar.
        Onde estás? 
        Olho para o alto e não a vejo.
        Não vejo nem um sinal, não sinto.
        Nem um sopro suave em meu rosto a me acariciar.
        Não a vejo.
        Oú êtes tu!"
      
       A. Fischer

Onde ando eu, você pergunta.
Por muito tempo eu fui a brisa, e o vento, e a força dos teus braços, e a vela, e o barco, e as águas nem sempre calmas por onde navegaste. Fui o sol que acariciou teu rosto, a chuva que molhou teu corpo, o porto e o cais. Fui a cachaça que bebeste, e as mulheres que amaste, e o calafrio da febre, e o choro de dor, e o filho que tiveste.
Fui tudo isso, porém não fui nada.
Estava em toda a parte, em cada fresta, em cada vão.
Porém não estava em canto algum. Além.
Onde ando eu agora, se já em lugar nenhum.
Se já não em ti.



Você levanta o rosto, marcado e triste, e busca o céu, a me procurar.
Mas não pode enxergar, tão alto.
Muito tempo passou. E o tempo, entre outras coisas, desbota os olhos.
Pergunta baixinho, quanto o tempo nos roubou. Eu devolvo, em silêncio, quanto ele trouxe?
Há muitos anos, eu salvei você de mim.
Te libertei e deixei à mercê. Da tua doce corrente, da tua imaginária prisão.
Foi cumprir rotas e fins. Capitão do seu destino.
Mas não.


A água não está parada, olha bem. Faz redemoinhos. Faz círculos.
Como a vida, faz voltas.
Onde ando eu?
Escuta, meu bem. Ouve o murmúrio, suave como uma carícia.
É o sussurro de um vento, começando.
Soprando de mansinho uma resposta.
Fecha os olhos para ouvir. A gente ouve melhor de olhos fechados.
Depois abre, com cuidado. E veja.
Não estou acima. Estou aqui.


Dani Altmayer
*Desafio*





















6 comentários:

  1. Perfeito minha escritora predileta.

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  2. Simplesmente perfeito...muito lindo.

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  3. Demais!!!! Bom desafio de novo. ❤️��

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  4. Sou seu fã de tempos idos...lanço o desafio, um texto de amor com continuidade ou desfecho feliz. Nada de saudade, de ausência, de tristeza. Uma história onde o amor vença o amor, a convivência o dia a dia a rotina. Mil beijos para essa menina de sensibilidade impar.

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  5. “Anônimo “

    A maior parte de obras com autores Anônimos são perdas históricas.

    O anônimo também abriga uma das formas mais belas do ser, exercer a benevolência, importando-se com a vida dos que já perderam tudo, menos a “identidade, e sem obter vantagem ou desejar créditos a seu ato.

    Por outro lado o anonimato abriga o lado, escuro e sombrio da alma, como os horrores da Guerra, que subtrai a dignidade humana com a perda da ”Identidade".

    “Ser anônimo”

    Podemos entender o conforto desta condição,
    onde não sou nada, não ocupo espaço, não existo.

    Mas que enigma é este ?
    Amar, beijar, cortejar, não ser ausente ao mesmo tempo não existir, ser nada – apenas Anônimo.

    Não seria justo doar estes sentimentos, compartilhar?
    Ou seu anonimato é suspeito inapropriado, indigno.

    Isto mudaria algo?

    Arthur Fischer
    Leipzig

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