domingo, 13 de maio de 2018

Fogo e água



Foi o silêncio que vi primeiro.
Então foram os dedos longos,
Só muito depois soube o nome
E que os olhos eram claros
Da cor da neblina que cobre as manhãs de outono.
Um céu com nuvens baixas,
O dia que se descortina aos poucos
Até explodir, de repente
Azul.

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Eu busco todas as metáforas para o que não sei nomear,
O enigma, o mistério, o encanto.
Nada cabe, ou decifra, nada define.
É terra estrangeira e também pátria amada.
Conforto e inquietação.
A urgência lenta, o que transborda em mim.
O riso e o pranto, a lucidez.
Deus e diabo, o profano e o sagrado.
Cais e despedida, cada chegada uma partida.

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A paz da perdida guerra, minha vitória particular.
Segredo, descoberta e nudez,
Primeira vez das inúmeras vezes.
A poesia o poeta nenhuma contradição.
Mais que as palavras que escrevo, as que inventamos.
Mais do que penso, bem mais que pensamento
É este insólito sentimento
De sólida leveza.
Que sobrevoa a incerteza do abismo
Infindável plano infinito,
Muito além do certo e errado

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Desde o instante em que te vi, reconheci.
O silêncio, as mãos
Os olhos
Se parecem com os meus.
Esta calma ancorou no meu caos.
Aos poucos e subitamente
Tudo mudou de lugar.
Mas já estava ali desde antes.
E o nome, este que já estava escrito,
Fica agora gravado por dentro,
Para sempre
Na borda interna da pele.

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Mas isso não é sequer um poema,
São só fragmentos
De alguém.

Uma coisa qualquer.


Daniela Altmayer





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