domingo, 2 de julho de 2017

Sobre meditação




"Note-se e medite-se. Para mim mesmo, sou anônimo;o mais fundo de meus pensamentos não entende minhas palavras; só sabemos de nós mesmos com muita confusão. "
( João Guimarães Rosa)


Antigamente, meditar era pensar sobre. Quando a gente fazia alguma coisa errada, por exemplo, e a mãe mandava:
- Medita sobre isso!
Era quase um castigo, parar para pensar. Deve ser por isso que por algum tempo relutei em meditar.
Claro que depois de muito ler, de muita aula de yoga, e de muito pensar sobre, eu aprendi que a meditação tinha outro propósito, totalmente inverso: o objetivo era parar de pensar. 
Aí que complicou, pois se já era difícil parar para pensar, imagina parar de pensar. 
Comecei de um jeito muito complexo e esotérico: mantras, respiração, incenso. Muita pompa e circunstância, pouco resultado. Nada acontecia.
Eu tentava, sentava naquela posição de lótus. Me doíam as pernas, coçava o olho, as costas nem se fala. Respiração de cachorrinho no parto. Música de fundo. Muito sono, uma vontade de dormir. Dormia, quase sempre. Sentada mesmo.
Ai, que coisa mais difícil. Não era para mim. Era sim. Insistia. Fiz meditação ativa, passiva, dança da chuva. E só o que sentia eram dores no corpo e sono. Muito sono.
Li artigos, livros, vi tutoriais. Decidi que não ia desistir. 
De uns tempos para cá, adaptei a meditação à minha vida corrida- depois de tentar acordar, em vão, às cinco da manhã todo dia. Descobri que se medita em silêncio. Em qualquer lugar, e por qualquer tempo. Pode ser dois, dez minutos. Uma hora. Ou mais (ainda não consegui). Na lotação, no trabalho, no sofá de casa. Só não dá para ser na cama, acredite. Nem tente.
Se eu parei de pensar? Não. 
Mas descobri que eu penso muita bobagem. Não bobagem séria, preocupação, essas coisas importantes. Não penso quase nada importante, Eu penso besteira mesmo, na morte da bezerra, na casa da mãe Joana, no fim da minha série preferida. Na maior parte do tempo a mente divaga por caminhos estranhos e eu bem que me divirto nessa viagem.
São como umas telas soltas de um filme sem edição. Muito loucas. O segredo é não se apegar. Deixar vir, ir, vir, ir. Voltar, respirar. Respirar sim, é importante. São coisas tão desconexas  que começo a acreditar que o verdadeiro silêncio é esse caos mental. 
Autoconhecimento em mãos: sou uma perfeita confusão.
Outro dia participei de uma meditação coletiva. Passei 45 minutos pensando merda. Nem senti o tempo passar, mas saí de lá renovada. Com a mente lavada. Se está certo ou errado, não importa. Faz bem na hora e depois. Como um banho de chuva num dia quente, um balanço na rede, umas férias na Bahia.
É bom.
Se eu estou iluminada? Não, longe disso. Seguirei tentando.
Mas estou mais limpa, com mais espaço. Estou mais em paz. É um paradoxo: na maior parte do tempo, quanto mais confusa, mais coerente.
Descobri que sou tão louca quanto o resto do mundo. 
Quando não editada. 


Dani Altmayer



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