domingo, 16 de julho de 2017

Só (mais) um café



Ele dizia: ainda tem mais um pouquinho, doce. Vem.
Obediente ela ia, sempre.
Sempre tinha.

Uma hora, de tanto espremer, mesmo o pouco já não resta.
Finda.

Terminaram de comer a torta entre semi- confissões, olhares demorados, perguntas não proferidas.
Voltaram juntos num silêncio embaralhado, ainda úmido - íntimo da emoção contida nas entrelinhas.
Entremeados por aaquela quietez conhecida.

O rádio do carro estava desligado.
- Em que está pensando?
- Nada... Estou ouvindo teus sorrisos.

Poesia.

A mão de um na perna do outro, o toque firme. O conforto das mãos que se sabem. Que tão fundo se deram.
Tão breve.

Por um momento, um lampejo.
 Seria apenas um lapso.

Despediram- se. No beijo a promessa.

Prometeram- se a dose certa.


Não sabem contar as gotas, ela uma desastrada.
Derrama- se toda.

Sem sentido.
Não poderiam ser dose depois de ser tanto.

Nenhum pouco bastaria.

Acho que foi isso, um tipo de respeito póstumo.
Uma espécie de reverência ao que foi.
Que ambos sabiam: foi.

E foi imenso.

Toda essa imensidão e então o deserto.
Esta é a tragédia.

Foi.

Amor de hora marcada,
Hora errada?
Sem drama.

Dani Altmayer

   

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