quinta-feira, 25 de maio de 2017

Umidade



O destino era surpresa.
No carro, quase dava para tocar o silêncio ofegante de palavras suspensas que, densas, pairavam entre eles como suspiros.
Nenhuma palavra se fazia necessária ainda. Eles sabiam que estavam ali à espreita; mais tarde elas viriam com a força que tem as palavras de destituir o momento perfeito onde antes era tudo fome e respiração.
Quase dava para tocar o silêncio de sua confusão, seus olhares febris, suas bocas sedentas. O tremor das mãos vorazes, os vidros embaçados de suor, a densidade do ar que faltava.
Alheios ao almoço improvisado à beira do lago, cinzento como o céu desse outono sem frio. Apesar da brisa, fazia calor à beira do rio.
Num dia que poderia ser como qualquer outro: nublado, sem horizonte, quase banal.
Mas o destino é sempre surpresa.
Como um vento que súbito muda de direção, a mágica da vida se (re)desenhava ali. Na densidade daquele úmido instante.
Feito um presente em preto e branco, o contorno de um enorme sorriso- revelado.
Devolvendo a paleta de cores- vibrantes-ao cinza dos dias que se seguiriam às palavras.
Que foram ditas, então. Com todo o cuidado que mereciam.

Dani Altmayer

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