terça-feira, 11 de agosto de 2015

Sobre coisa alguma



Eu não sou poeta. mas nasci com essa coisa dentro de mim.
Poesia vem de presente. Para você, poeta, é assim.
Ou é coisa que gente comum toma emprestado, como eu.
Pega como bolsa e dinheiro, para ir ao cinema, ao supermercado.
Pega como paciência, para aguentar o paciente velho mal humorado.
Pega como perfume, afrodisíaco e mentira. Para seduzir um amado.
Poesia a gente pega no ar, gripe, na nuvem, no livro da estante.
Poesia é o que a gente rouba, inteira, do instante.
É tudo que sobra.
Do instante que rouba da gente, o tempo.
Inteiro.
Poesia é só um jeito de olhar diferente.
É tanto.
Nada demais, nem de menos, nem de louco. Todo mundo tem, um pouco.
Poesia é só um jeito.
Um jeito esquisito de ser e de ver e de sentir e (des) viver.
Um brincar com as palavras. Pode nem entender.
Pode rimar, melhor ainda que não.
( Não sei fazer poesia sem rima, criança.).

Por exemplo,
Vaidade, verdade. Rimam e não combinam.
Mudam apenas duas letras, uma sílaba, muda tudo.
Troque a vaidade pela verdade, experimenta.
Vai, coragem! Ver.
Ah, a verdade imensa. Assusta.
Dá volta ao mundo, devolve.
A vaidade mais bonita parece. Fumaça.
Envolve, e não alcança.
Não me alcança.
É só um filtro.
Uma viagem de segundo.

A poesia é só um jeito de dizer.
Uma vaidade da verdade. Um enfeite.
Eu não sou poeta, só tenho essa coisa esquisita aqui dentro.
Que grita.
Que eu poderia agora rimar com peito, mas me recuso.
Aqui dentro é muito maior que o meu peito pequeno, é sangue e veia e suor e lágrima, tanta.
É sal, é rim, é pulso, confusão, é mais embaixo e mais além.
Aqui dentro é tudo tão de verdade, que dói.
E eu tento.

Porque eu não sou poeta, nem nada.
Sou feito criança brincando de ser.
Estou aquém.
Estou aqui, sem saber o que fazer. Perdida.
Fodida.
Eu não finjo, é de verdade a poesia que brota em mim.
Mas não é minha.
Eu roubei, emprestei, te tomei. Copiei.
Talvez por vaidade, que não sou melhor que você.
Sou apenas mais uma impostora, dessas que rima.
Pior tipo!
Invejosa.

É que eu tenho essa coisa por dentro, essa ânsia, que a tua poesia acalma.
Alivia.
É que você... Você sim, poeta.
Poeta sem métrica, da justa pretensão, você é maior.
Nasceu assim, sem rima, sem nexo, tão fácil, tão simples, que parece até vaidade.
E não é.
Fica parecendo não ser de verdade. Mas é.

Dani Altmayer




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