domingo, 7 de dezembro de 2014

Ainda ontem


Não são as rugas e os cabelos brancos que denunciam nosso envelhecimento.
Nada marca mais a passagem do tempo do que ver nossas crianças crescerem.
Longe estava o dia em que eu precisaria olhar para cima para falar com meu filho. 
Não faz muitos anos, eu pegava numa pequena mão para atravessar a rua. Hoje, é essa mão, o dobro da minha, que me segura tantas vezes, para atravessar a vida. 
"Mãe, vai ficar tudo bem. Tamo junto."
Às vezes entra no consultório algum menininho saltitante, de chinelos do homem aranha e camiseta do Batman, e o meu coração se aperta de saudade. 
É que passa tão rápido, ainda ontem eu procurava o Nemo e me divertia com o Buzz Lightyear, tinha minha unha do pé quebrada jogando futebol na areia do clube e esperava ansiosa a continuação da Era do Gelo.
Ainda ontem, eu juro.
Daqui a alguns dias meu filho se forma no primeiro grau. Uso o termo errado de propósito, para que ele me chame de velha, como um dia chamei a meu pai. E falo coisas como "no meu tempo…" 
"No meu tempo não tinha essa bobagem de formatura na oitava série, nem no ensino médio. Eu só me formei na faculdade."  Digo isso, mas só uma parte de mim acha bobagem. Outra parte, a que foi por ele proibida de chorar na tal formatura, fica toda orgulhosa. 
Na semana passada, ele foi sozinho buscar o boletim. Notas excelentes, por mérito dele, que se organiza sem que eu precise ficar controlando o tempo todo. Há anos que já não estudo junto. " Não faz mais que a obrigação", e ele sabe disso. Ainda assim, faz, e me faz feliz.
Acompanho, mesmo que à distância e com um pouco de culpa (que mãe não tem?) suas vitórias no esporte que tanto gosta, vejo o suporte de medalhas repleto de suas conquistas, resultado de muito treino, dedicação e suor. 
Olho para este guri enorme, e meu peito se enche de um amor cada vez mais alto. 
Nem tudo são flores e corações na nossa história, lógico.
Sei que estamos ao meio do caminho. 
Em plena era das espinhas, amores e humores imprevisíveis. Na era do sono e da preguiça sem fim. 
Das brigas e negociações e conversas com paredes e muros.
Na fase em que pais passam de heróis a bandidos, é agora que somos muito ridículos e é agora que quase nunca temos razão. Ao menos até doer na pele a prova em contrário. "Eu avisei"…
Ah, a paciência. A preocupação, o orgulho, as dores e as alegrias, tudo junto e misturado. Tudo o que faz parte da grande confusão que se chama vida.
No entanto, uma etapa é agora finalizada com sucesso. E eu mudo de opinião, porque desde que ele nasceu vivo mudando. Batalhas vencidas devem ser sim, celebradas e festejadas.
Prometo ser discreta, e chorar escondida.
E prometo não esquecer que nós dois ainda temos muito o que aprender. 
Eu e ele. 
"Tamo junto".
E é por isso que eu sei… vai mesmo, vai ficar tudo bem.


Dani Altmayer

Na esperança de que um dia, não agora (que é mico), ele leia meus textos, me perdoe, e saiba que isso é amor. E que é dele que vem a minha força maior para continuar, deste " amor errado mais certo do mundo."



6 comentários:

  1. Que lindo, querida Daniela! É um amor grande e bem colocado aqui! Tenho certeza de que teu Filhão irá adorar com saudades tudo o que escreves mais tarde! Tuas *crônicas* são maravilhosas! Sou tua fã, como já sabes! Continua! Não para nunca... e publica! Um beijo grande! E que sejas sempre abençoada e iluminada!!!

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    1. Obrigada, Eliana, não pretendo parar, enquanto meu coração me guiar, e a vida me permitir.

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  2. Amor. Como é possível amarmos tanto assim? Mas, amamos ainda mais.
    Parabéns para vcs dois, Dani e JP, por serem como são.

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  3. Só um momento para eu poder me recuperar das lágrimas que caíram...já volto...

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