sábado, 10 de março de 2012

A parte que nos cabe


No exercício de minha profissão ( médica há 16 anos),  me deparo diariamente com histórias e situações as mais diversas, sejam elas divertidas ou tristes, muitas vezes inusitadas, na maioria comuns. Dores, angústias, dúvidas, alegrias, um sem fim de rostos e personagens e vidas que passam de uma forma ou outra a fazer parte da minha própria história.
Ontem pela manhã atendi um senhor de seus 50 e poucos anos que estava fazendo exame admissional para trabalhar em uma indústria, contente após longo período em casa, sem emprego. Gordinho sem ser obeso,certamente acima do peso. Durante a consulta, pergunto sobre uso de medicações. "Ah, uso um comprimidinho para diabetes, doutora". Mais alguma coisa, seu fulano? "Sim, outro pro colesterol, que é um pouquinho alto, a senhora sabe..."Sei, sim, e a pressão, o senhor não tem pressão alta? "Ah, sim senhora" E a medicação?" Tomo aquele comprimidinho pequeninho que dão no posto, tinha que tomar 3 vezes ao dia, mas só tomo â noite, não sinto nada". Resultado: ao medir a pressão do senhor fulano, taxas extremamente altas." Mas como, doutora,etc etc...". Exame pendente, encaminhamento ao cardio, orientações e o sonho do tão esperado emprego, adiado.
Conto esta história porque é muito comum, com pequenas variações. E todos, absolutamente todos querem saber " como"? Ora, como? Esquecendo a parte que cabe a cada um de nós, e que determina em mais de 95 por cento o tipo de pessoa que somos e a saúde ( ou falta dela) que temos. A vida que levamos, a comida que comemos, o exercício que fazemos ou deixamos de fazer, a orientação médica, nutricional, emocional que seguimos, tudo isso determina nosso destino físico e espiritual. É cada dia mais frequente e comum o modelo paternalista que se estende também à medicina, onde os pacientes chegam "à espera de um milagre". Eu sei, mudanças são dolorosas e difíceis, mais fácil é conseguir o remedinho ( para emagrecer, para dormir, para alegrar, para comer, para quase tudo...). É muito mais cômodo culpar o médico ( que  também tem culpa por perpetuar esse sistema) do que tomar atitudes positivas e pro ativas. Informação não falta . Falta vontade. Vontade política, vontade institucional e principalmente, vontade própria, individual, de mudar o jogo e ganhar em saúde. Parar de perguntar como, e descobrir o porquê.

Dani Altmayer

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