sábado, 24 de março de 2012

Tempo de faxina

Cansada da bagunça, resolvi arrumar meus papéis. Comprei pastas de arquivos, etiquetas, enfim, tudo para me tornar uma pessoa organizada. Deixei a TV no show da Maria Rita, acendi um incenso e mãos à obra. Queria arquivar contas, jogar fora tudo que já não tinha serventia, separar os documentos importantes. Tenho pastas e mais pastas com papéis jogados a esmo, que sobreviveram a pelo menos três mudanças de endereço. Mais do que na hora de por ordem no caos. Bom, a arrumação não chegou nem à metade e já perdi a conta de quantas vezes parei para chorar, me emocionar, sorrir e lembrar. No meio das contas (todas pagas, ainda bem), encontro com certidões: de nascimento, de casamento,separação, de óbito. Pausa para enxugar lágrimas. Fotos soltas, de momentos já esquecidos, de um passado já tão extenso. Cartas, umas poucas cartas de amigos que  não tenho como rever, fazendo com que me lembrasse um pouco da jovem que um dia fui. Mensagens, cartões, escritos do meu pai, que me levaram ao seu livro, que me atrapalhou o trabalho, que me fez chorar de novo. E ler para meu filho pedaços do  que este avô escreveu para um neto que já era amado muito antes de nascer. Mais lágrimas, desta vez acompanhada. Exames médicos, carteirinhas de vacina, mais alguns documentos esquecidos. Histórico escolar, que boa aluna fui. e de volta às contas, dezenas delas, nossa, quanto consumo! E, no meio de tudo isso, encontro um tesouro que julgava perdido, um roteiro de viagem feito pela minha mãe há uns 15 anos, quando fui para a Europa com um grande amigo. Dia 1, dia 2, tudo detalhado, escrito com tanto capricho, com dicas e conselhos inestimáveis, tanto amor em um simples pedaço de papel. Papel que quase se perdeu no calabouço do Les Invalides na´Paris de 1996, e foi resgatado por um guarda mal humorado. Merci! Peguei este tesouro na mão e minhas lágrimas suaves se transformaram em um choro forte, cheio de saudade e gratidão! O show da Maria Rita terminou, a noite já vai longe, a mesa continua abarrotada de coisas. Meu coração está leve e pesado com estas lembranças, mas feliz por ter vivido tanto, amado tanto e sido amada desta forma. Feliz por já ter andado tão longe, conhecido tanta gente, mudado muito, mas ainda assim, sempre ter carregado a certeza deste amor que tive e tenho, do porto seguro destes pais, desta família, que me deram, e dão, tanto, muito. Um pouco surpresa de ver que uma simples faxina pode mexer tanto com a gente. Quanta vida já passada, ufa! Mas vamos lá, não dá para parar agora, é preciso ir até o fim, organizar papéis e recordações, abrindo espaço nos armários e na vida, para que venham mais, muito mais!

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