segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Beto, o peixinho

O menino queria muito um animalzinho de estimação. Tinha cinco anos de idade e uma persistência feroz.
Após uma longa e difícil negociação, a mãe bateu o martelo: "vai ser um peixinho'! O menino, a contragosto, aceitou a decisão superior, afinal era aquilo ou nada. Sonho de quatro patas adiado momentaneamente.
Saíram os dois para a loja de animais, dispostos a efetivar o negócio. Na loja, o menino, fascinado, era obrigado a desviar os olhos dos filhotinhos de linguiça que, animados, abanavam os rabinhos, pulavam e latiam a chamar sua atenção. Mais adiante um lindo gatinho persa de olhos azuis ronrona à sua passagem-"mas mãe...?" Nem pensar! Gatos dão alergia, soltam pêlos, blá blá blá.  Passaram por hamsters, tartaruguinhas, iguanas e chegaram no setor dos aquários. A mãe, na maior animação, deixa o menino escolher, desde que seja um só, aquário grande dá muito trabalho. O menino enfim escolhe um lindo exemplar de Beta vermelho, e levam para  casa o peixe com toda a parafernália, aquário, ração, e uma palmeira para enfeitar o minúsculo habitat de seu novo amigo. Amigo? O menino até que tentou: batizou o peixinho de Beto, puxava assunto, jogava escondido uns pedacinhos de pão, e nada do danado interagir. Só tinha alguma diversão quando colocava um espelho na frente do aquário e o Beto se eriçava todo pensando se tratar de um inimigo! Mas logo o menino cansou desta brincadeira e do eterno silêncio do peixinho, que passou a ser apenas mais um objeto de decoração na prateleira. Os pais ainda tentaram, e resmungaram, depois se conformaram e cuidavam eles mesmos do peixe mudo.
Algum tempo depois, o peixe morreu, como era esperado. Os pais, em pânico, preocuparam-se com a reação do menino. Seria o primeiro contato com a morte, poderia ser uma oportunidade e um aprendizado. Foram juntos, com todo o cuidado, contar ao garoto sobre a má sorte do Beto, peixinho calado. O menino, do alto de seus 5 anos e de sua vasta experiência, adquirida no Animal Planet, olha para eles e diz: que pena, mas é assim mesmo, peixes não vivem muito. E volta sua atenção para a luta que o batman travava com o dinossauro do mal.
O pai, inconformado e preocupado, sugere uma avaliação psicológica. A mãe, triste, mas realista, enfrenta melhor a situação. O menino segue sua vida alheio a tudo isso, e nem percebe o aquário onde, por uns bons dias ,continuava boiando o falecido, numa tentativa desesperada do pai de provocar uma reação,um choro,uma emoção.Um suspiro, talvez? Em vão.Não tem sentimentos este menino? Alguns dias depois de sua passagem, o peixinho Beto finalmente é descartado, digo enterrado,  pela faxineira resmungona que já não aguentava a cena e o cheiro daquele pobre infeliz na prateleira.
Nota da autora: apesar de ser baseada em fatos reais, esta é uma história de ficção.

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