quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Menina

Final de dezembro em Porto Alegre, calor mas nem tanto, um belo sol brilhando, algum vento. Entro na lotação quase vazia, recosto a cabeça e me entrego aos pensamentos, que vão se transformando em semi sonhos a partir do embalo do veículo e do cansaço de fim de dia. Ar condicionado em temperatura milagrosamente agradável.Os olhos vão fechando e abrindo enquanto me dirijo  ao salão  para retocar os loiros. Sonolenta. Então eu a vejo, logo na descida do viaduto. Uma menina mulata, 15 anos no máximo, magrinha, empunhando seu carrinho de compras, de supermercado, sem compras. No carrinho, papelões de todos os tamanhos e formas. Ela arrumadinha, de legging com apliques brilhosos, uma blusinha de renda a cobrir seus peuqenos seios, chinelos de dedo.Sozinha. Empinada, segue atenta a tudo, estaciona seu carro, pára, olha, vai à busca de algum pequeno objeto que do meu trono não consigo identificar. E segue, escrutinando a rua, com seus olhos atentos, com sua beleza adolescente, com seu caminhar decidido. Me acorda enfim.
E me faz perguntar que sonhos terá esta menina? Que sonhos posso eu ter? Lembro de uma história que me foi contada : certa feita entrevistaram um mendigo, morador de rua e perguntaram a ele o que esperava do novo governo.(era época de eleições).E ele respondeu, de súbito: que construa mais viadutos!  E meu pensamento volta novamente para a menina. Sonhos? Que sei eu? Um mundo nos separa. E não.

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