terça-feira, 1 de março de 2022

Coragem vem de coração




As coragens que precisamos são de vários tamanhos. Nem sempre estão disponíveis em tamanho menor, para aquele medo pequeno, cotidiano, mais fácil se apresentarem grandiosas, em condições extremas, a coragem de escolher a vida ao invés da morte, quase sempre, quase sempre está ali, à espera de uma situação limite, que não deixe nem sombra de alguma dúvida, lutar ou correr-tanto faz. É tudo coragem igual, porque,  muitas vezes, fugir não é covardia e sim a única saída possível. Sobreviver.

Mais rara é a coragem outra, para aquela situação que não te põe em xeque, a que te dá opções, nem sempre dignas, pequenas migalhas de um banquete que, se não te sacia a fome, tampouco te mata dela, aquele lugar que chamam zona de conforto, e que não tem nada de errado, até tu reparar nos buracos da parede, no montinho escondido embaixo do tapete, os furos no sofá de molas, até tu tentar dormir no colchão rasgado, até tu descobrir que passou da hora de uma reforma íntima e geral.
Mudar as coisas de lugar, carregar para fora o lixo, descobrir o que não serve mais, perceber o que está faltando. Tudo isso pede ânimo, que é também um sinônimo para coragem.
Qualquer desapego requer coragens, encontrar sentido é sempre um desafio, largar um vício, cambiar um hábito.
Mexer em fotos, memórias, crenças e medos feito souvenires há muito esquecidos nas estantes. Descobrir o que foi quebrado, tentar consertar. Ou não. Tornar mais leve, abrir espaço. Encher as caixas dos livros lidos, idos, reciclar, reformar, pintar- colorir. Deixar ir. Fazer caber.
Há que se achar a coragem do tamanho certo.
Mudança nem sempre é sair de um lugar para outro. Mas quase sempre é.
E nesse texto tão cheio de metáforas, descobri que a palavra metáfora vem do grego, e significa justamente mudança, transposição. Veja só. 

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