domingo, 1 de agosto de 2021

No plantão








Trago livros, carrego-os sempre comigo.

Neste instante eles estão na mesa, à minha espera. Eu, que enquanto espero, estou no celular. Lendo textos, diga-se a meu favor, mas ainda assim. Vejo fotos também, vídeos não me atraem, os longos então, não tenho paciência. Mas assisto à entrevista, e comemoro o ouro da Rebeca, a humildade e a alegria vencendo as dores todas, vencendo as dores expostas, também as ocultas, uma menina vitoriosa num país que é cruel com as mulheres, com as pretas, com os pobres.
Orgulho dela.
Os livros, são dois, os que estão aqui, mais um que não veio, são três livros começados, se não me engano, não, são quatro, mais um que falta apenas um capítulo, os livros andam sempre comigo, ainda que nem sempre os abra, é uma coisa antiga, desde criança. Fazem-me companhia, mas sinto que preciso estar a resgatar constantemente o conhecido hábito, coisa recente, esta distração cotidiana, a vida toda uma leitora contumaz, e isso me dói, estes livros a me olharem com suas belas capas duras, magoados pelo desprezo que nem é, mas eles não sabem. É preciso sempre que se diga, menos em palavras e mais em ações, é assim que se demonstra o afeto, em todas as coisas, em todas as ocasiões, sempre, é só assim que é possível: no ato, não na omissão. Amor não é para ser adivinhado.
E um livro, como as gentes, foi feito para ser descoberto, abrindo as páginas devagarinho e com cuidado, lendo cada palavra com atenção e vontade de entender.
Sem vontade não tem solução. (Sem atenção não tem tesão.)
No toque é que o amor floresce, na disciplina se forja a força, não largar a mão de ninguém é também não abrir mão dos velhos amigos, os mais leais que já tive, os melhores mestres. Ler é resistir. É existir. Na verdade, não sou eu quem os carrega, é o contrário.
São os livros que tomam conta de mim. Um de cada vez, e todos ao mesmo tempo.




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