sábado, 8 de maio de 2021

Estou de volta


 

Ontem pintei as unhas.
Hoje pedalei.
Uma coisa não tem nada a ver com a outra, eu sei. Mas é que fazia bem mais de um ano que eu não fazia nem uma coisa, nem a outra. Por causa da pandemia, parei de usar anel, relógio, brinco- este já voltei há alguns meses, esmalte. Por causa da pandemia, parei de pedalar por achar que não conseguiria fôlego, de máscara. Moro num morro, a volta é sempre lomba acima.

Ontem usei um esmalte clarinho. Não sei se vou voltar a pintar a unha toda semana, achei bem libertador poder lavar louça e limpar banheiro (oi?) sem me preocupar com unha lascada. Motivo fútil, eu sei. Me deixa. Mas gostei de ver minha mão mais enfeitada agora, para variar.
Hoje fui à feira de bicicleta. De máscara e capacete, porque autocuidado é legal e é isso. Para minha surpresa, meu fôlego deu e sobrou, sem colocar a máscara no queixo nem por um instante. Quem me conhece sabe do meu ranço por máscara no queixo.
Na descida, o vento frio no rosto, o cheiro da alegria acordando os sentidos. Despertando cada músculo adormecido, num prazer quase infantil de se deixar levar.
Hoje está um daqueles dias gloriosos de outono, céu de azul imenso, temperatura sexy sem ser vulgar. Um dia de subir a serra, como dizia uma das minhas mães. Que saudade das minhas mães. Faz anos que não subo a serra. Aliás, faz tempo que não saio daqui.
Na subida da volta, a vitória das pernas. Dos pulmões. Da paixão reencontrada. Redescoberta.
Pedalar, mais do que pintar as unhas- mas também- me fez voltar e avançar no tempo, ao mesmo tempo. Para um passado e um futuro que existem, apesar. Que resistem.
Além da distopia deste presente, o vislumbre das possibilidades, a certeza de que vai passar um dia.
E que andar de bicicleta é feito amar: depois que se aprende, não se esquece jamais.


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