quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

O escritório da casa velha

 


O escritório da casa velha

O abajur sempre aceso o cheiro de madeira e cigarro a escrivaninha escura de mogno o carpete puído
as estantes até o teto a barsa laranja a coleção de revistas geográficas os livros proibidos nas prateleiras bem de cima as gavetas repletas de cadernetas e segredos os dedos rápidos da mãe na máquina de escrever o atlas de medicina do pai aqueles olhos vermelhos aqueles corpos estranhos os enfeites as tapeçarias mexicanas um berimbau um cachimbo o cinzeiro de pedra as baganas a coleção de pesos o abridor de cartas os envelopes rasgados a nossa senhora em madeira a bíblia aberta em papel de seda aquelas gravuras bonitas as canetas douradas um globo onde habitavam dinossauros e caravelas aventuras naquela ilha perdida era eu a descobrir a soma das letras e um mundo inteiro que só cabia ali.

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