sábado, 12 de dezembro de 2020

Luto






Sete horas da manhã e o suor escorrendo na nuca, touca, avental, máscara, óculos, luva, álcool, mais um plantão.

Porto Alegre quarenta graus, faz dezembro, já vai ao meio, findando este ano estranho de números redondos, de números indecentes, cento e oitenta mil e contando. Cento e oitenta mil mesas brasileiras onde vai estar faltando alguém e a saudade tanta está doendo em si.

Os números assim postos, estratosféricos, gráficos que sobem, descem sem convicção, sobem novamente, e o cansaço de fim do ano, tudo trocado de lugar, coração e corpo e descrença, tudo posto junto e ao contrário, e mais a falta que um bom norte nos faz, todo o desenho aponta o desastre, porque quando eu não te humanizo eu faço o oposto.

Quanto tudo é numeral, eu que detesto matemática, e não sei fazer a conta, eu deixo de te enxergar. Em respeito aos milhões, milhares, centenas, mas principalmente em respeito a cada unidade, a cada indivíduo, a cada amor de alguém que perdeu a vida, a saúde, a sanidade, um amigo, uma família, a quem ficou sem rumo e sem chão nesse terrível 2020, deixo meu sentimento, meu profundo pesar, um abraço apertado.

Tua dor é tua. Minha. Minha dor é tua. 

Seguimos. 

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