domingo, 10 de maio de 2020

Dia da mães



Oi, mãe.
Tem um orelhão no meu bairro. Descobri hoje, quando saí para caminhar sob o sol. De máscara, sim. Sempre.
Tem coisas que a gente só descobre andando devagar. O orelhão está em bom estado, mas não tive coragem de tirar o telefone do gancho para ver se funciona ainda.
São tempos em que não podemos tocar em nada. Nem abraços podemos dar, mãe. Mas eu ganhei um abraço apertado do JP, hoje cedo E chocolate. Um dos teus preferidos, aliás: língua de gato.

Lembrei das tantas vezes em que estive longe de ti, do barulho das fichas caindo (algumas nunca caem), da delícia de encontrar um telefone estragado que fazia interurbano de graça. Eram tempos mais difíceis para se comunicar, idas à telefónica, ligações caras, saudades imensas. Tua voz doce a apaziguar meus medos- eram tempos mais fáceis, mãe.
Subi e desci as escadas da praça, várias vezes. Exercício é bom, precisamos estar fortes. Nunca tinha caminhado por esta praça, tão bonita, e tão perto. Porque estava sempre de passagem. Ou apressada.
Não temos pressa, agora. Não faz mais sentido.
Os bancos vazios, o balanço solitário. Uma bola esquecida no meio da quadra de futebol. Um pouco triste, um tanto belo. Há uma espécie de nostalgia que envolve todas as coisas. O céu de um azul imenso, a temperatura amena de um dia de outono, e o invisível à espreita.
Não temos pressa, e não temos mais certezas. Estamos todos de máscara e nada sabemos de amanhã, mãe. 
E eu nem sabia que existiam orelhões, ainda.
São tempos estranhos por aqui, são muitas e diversas, as saudades. 
Feliz dia das mães, aí. Com amor, 
Dani

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