segunda-feira, 18 de março de 2019

O golpe do amor (?)





Ele a amava, e nós o amamos por isso, apesar de odiar o que ele fez. Eu o perdoo, porque sei que ele fez o que fez num momento de confusão, mas ainda assim, foi por amor. Eu não duvido disso.
Está sem aspas porque não é a fala exata, mas aproximada, de uma das personagens do seriado a que assisti no final de semana. Uma mãe se referindo ao genro que matou a filha porque ela queria o divórcio e a liberdade.
Maratonei essa série no domingo, coisa que não costumo fazer, porque não gosto de ficar tanto tempo refém da TV, me dói o corpo todo e fico sempre com a impressão de que o tempo entra em suspenso, depois se vai, pufff, para sempre perdido, feito um dia que não aconteceu. Só que, às vezes, viro escrava da trama, do personagem, ou mesmo do tédio de uma tarde de domingo, e acontece, como aconteceu.
A série se chama Dirty John, em português tem o subtítulo desnecessário e entreguista de "o golpe do amor."
É uma trama baseada em fatos reais e é a prova de que a realidade é uma baita de uma ficção.
Não é sobre o assassinato ( feminicídio) que mencionei lá em cima, essa é mais uma história paralela. Tampouco é sobre amor, porque o amor não é nada disso, nada daquilo.
É sobre psicopatia, sim. Mas é sobre mulheres, e é sobre cada uma de nós, em maior ou menor grau. Nossas carências, condicionamentos, vulnerabilidade, sobre essa coisa de confundir tudo, de achar que tem que perdoar sempre, que tem que cuidar sempre. É sobre o véu que ainda cobre nossos olhos e que ainda nos faz culpadas mesmo vítimas, faz com que nos culpem, mesmo sendo vítimas, e isso aparece em muitos momentos na narrativa: na voz dos policiais, na voz do cara chamando a ex de louca ( novidade!), na própria voz, na manipulação sutil e nem tanto. Aparece no relacionamento abusivo disfarçado de gentileza, de cuidado, no controle, na dificuldade de ver as coisas sem o filtro COR-DE-ROSA do romantismo inútil, que só nos ilude e nos faz menores.
É sobre crenças, e é sobre o mal. O mal, vestido de PRÍNCIPE, disfarçado de flor ou café da manhã.
Vale a pena assistir, apesar do nervoso que a gente passa. É um alerta, mas também é uma boa história de suspense policial- e psicológico.
Que seria melhor ainda, se não fosse real.


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