domingo, 24 de março de 2019

A cidade que eu vejo






Hoje estava daqueles dias perfeitos. sol, céu com poucas nuvens, essa luz inclinada, dourada, que o outono traz e derrama sobre a cidade, deixando as fotos e a vida mais bonitas, nenhum vento para ir, para voltar, nenhuma resistência fora a do meu corpo, da bicicleta, dos pensamentos, a cidade acordou cedo, na beira do rio um navio se despedia de Porto Alegre, enquanto a gente daqui amanhecia, correndo, pedalando, patinando, andando, desde que vim morar aqui, já faz quase metade da minha vida que eu sei que o porto-alegrense ama um dia de sol, um parque, um chimarrão, uma corridinha, no começo eu era das bandas do parcão, depois fui farroupilha, feirinha da redenção, hoje sou de lugar algum, um pouco de tudo mas quase nada de moinhos e muito do centro, onde passo a maior parte do meu tempo, entre vendedores de guarda-chuvas e compradores de ouro e cabelo, entre ambulantes e artistas de rua, com suas lojas de gosto duvidoso e edifícios de tirar o fôlego.
Há quase um quarto de século convivo com as delicias e as mazelas de Porto Alegre, comemoro suas conquistas como se fossem minhas, mostro a orla nova para meu pai com orgulho bairrista, me entristeço com o fechamento de livrarias de calçada, com a sujeira das ruas, com o mato que cresce sobre a ciclovia, ciclovia que não tem dez anos, e está encarquilhada, craquelado, enrugada como uma centenária, cada dia mais estreita, mal cuidada, cheia de buracos e sem maquiagem, a ciclovia envelhece mais rápido do que eu, do que essa cidade onde escolhi viver no já distante 1994, cidade onde fiz e faço amigos, amor e amores, essa cidade que está de aniversário, tem tão pouco e tão muito para comemorar.
247 anos de vida.

Daniela Altmayer

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