domingo, 28 de janeiro de 2018

Sobre ser bambu e não carvalho




Quando você finalmente respira, aliviada: ah, então é isso?
Certa de que entendeu tudo, coloca os burros na sombra e descansa na rede de todas as certezas, sente aquela coisa rara e meio esquisita que parece uma paz. Nenhuma folha oscila, nenhuma nuvem no céu: tudo claro e sereno, tudo em seu devido lugar, inclusive você.
Você fecha os olhos e sorri, satisfeita consigo mesmo, e pensa que conseguiu.
Chegou onde gostaria de ficar. Já não era sem tempo, suspira orgulhosa.
É então que uma palavra, um silêncio, um pensamento, objeto ou sujeito, bota o tempo a perder.
É aí que o vento inesperado levanta um redemoinho no chão da tua areia de conforto, porque o chão é sempre de areia, e a areia te entra nos olhos, narinas e boca, te sufoca e engasga, a rede se agita, te joga para fora, e os burros há muito fugiram da tempestade e te deixaram sozinha. Nem precisa olhar para o céu para adivinhar as nuvens: nada mais está no lugar, nem tudo e muito menos você.
Qualquer coisa a toda hora balança o frágil equilíbrio da certeza que não há. que não pode haver. A certeza na qual eu ainda insisto em acreditar, contra todas as evidências.
Penso então nas posturas de equilíbrio da yoga e me consolo: mesmo que não pareça, elas não são estáticas. Nem rígidas. Exigem força, equilíbrio, concentração. E flexibilidade. Tem sempre um tênue balançar, uma oscilação. É isso que faz a postura se manter, o foco, a atenção, e saber se pender.
A gente não fica onde gostaria de estar, a gente oscila. E muda. O equilíbrio está no pêndulo e esse equilíbrio é sempre dinâmico.
Como na vida, contínua adaptação.

    Daniela Altmayer

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