Outro
dia, no fundo de uma gaveta, achei uma foto de quando meu filho estava começando
na escola nova - primeira série. Nesta semana recebi o aviso de uma reunião no
colégio para tratar da formatura dele.
Abro
os olhos e dez anos se passaram.
Há
muito ele passou de mim, em altura. Ainda consigo sentir o calor de sua
mãozinha apertada na minha no primeiro dia de aula, ao mesmo tempo em que o
vejo no banheiro, fazendo a barba em frente ao espelho.
Quando
ele era pequeno, eu olhava para ele e pedia: vai devagar, tempo.
Por
favor.
Como
pôde, então, ele desrespeitar meus avisos de velocidade e disparar desse jeito?
Penso
no tempo gasto em reclamações, em discussões inúteis e no quanto isso fez
acelerar os relógios em dias ou até meses.
Penso
no tempo ganho em brincadeiras ao sol e abraços apertados, e no quanto isso
retardou os ponteiros e fez demorar os raros segundos.
Lembro
daquela frase de um filósofo de nome complicado que diz que "a vida só
pode ser compreendida olhando-se para trás, mas só pode ser vivida olhando-se para
frente". A velha história: se eu soubesse naquele tempo o que sei agora...
Só que a gente nunca sabe na hora, só depois. Bem depois.
Bate
uma nostalgia sem sentido, uma vontade de retroceder nos anos e mudar o ritmo
dos relógios. De ser mais suave, comigo e com ele. De me guiar mais pelas
batidas de coração, menos por prazos a cumprir. De falar isso para cada pai
distraído que cruza meu caminho de mãos dadas com um menino vestido de Homem - aranha:
-
Aproveita. Porque passa rápido, muito rápido.
Como
não é possível, me contento em perceber que afinal a vida não é marcada por um
cronômetro, embora às vezes pareça.
E
que ainda que a gente ande quase sempre apressado, sempre haverá uma manhã de
domingo. Aquele momento para se estar junto sem despertador e sem hora. De pé
descalço e pijama: uma manhã preguiçosa, gentil, paciente. E lenta.
Como
a infância de nossos filhos deveria ser.
Daniela Altmayer
( Crônica que está no livro da safra 2017 da Santa Sede. Tempo/velocidade)
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