Na hora calma da sexta à noite, o som de um saxofone me invade o quarto, soprando nos meus ouvidos os acordes de I`ve got you under my skin. Ponho de lado o livro que estava lendo.
Um homem, imagino que seja um homem, toca no prédio vizinho, eu cantarolo a música aqui dentro da minha cabeça num sorriso mudo de quem é desafinada por nascimento, poeta por falta de escolha.
Fecho os olhos e te sinto em cada poro da minha pele, e tudo é exatamente como fala a canção.
Tem lugares de portas abertas de onde não se pode fugir.
Mesmo que nunca se possa ganhar, avisa a voz, shhh... Espero que se cale, inconveniente.
Não é sobre ganhar ou perder, nem é sobre resistir. É sempre sobre outra coisa, maior.
Acaba a música e alguém pede bis, não sei se está rolando uma festa, ou o quê, mas o cara toca bem e não me importo com a quebra do silêncio na meia-noite fresca desse novembro estranho. Ele segue com Frank, My way é a escolha, eu seguro a vontade de cantar alto, do alto do meu lugar comum: a cama. Plateia VIP.
Quero poder ouvir essa música no dia em que o fim vier, e pensar: eu fiz do meu jeito.
Embora eu não tenha planejado cada etapa, sequer tenha tido muito cuidado; tantas vezes estabanada e desatenta, tenho poucos arrependimentos para muitos erros pela estrada, e embora eu espere que esse dia ainda demore a chegar, o que nunca se sabe, nesse momento eu quero é poder cantar forte e fora do tom: I've loved, I've laughed and cried
I've had my fill my share of losing
And now,…
And now,…
Vento de primavera.
Durmo abraçada ao travesseiro macio de uma bem acompanhada solitude.
Paz é um pouco isso, um nada de tudo. Ou antes um tudo, de nada: um tipo de felicidade.
Musicada ou silente, assim intercalada.
Daniela Altmayer
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