domingo, 9 de abril de 2017

Chorei por nós


O domingo amanheceu cinza e com cara de chuva. Cedo chegou o aviso de que ele havia partido.
Saí para pedalar, arriscando o banho. A chuva me alcançou na beira do rio, molhando meu rosto, embaçando os óculos. Eu não chorei por ele, as lágrimas vinham do céu que tinha a mesma cor desolada daquele lago sem horizonte. 
Há um par de anos eu o encontrava na entrada da clínica, varrendo a calçada, lavando a sujeira dos mendigos da noite anterior: bom dia, doutora. Na saída: bom descanso, doutora. (Mal sabia ele que era só o meio da longa jornada de todo santo dia.)
Não chorei por ele, não o conhecia o suficiente para saber de seus amigos, suas dores, seus amores. Dele, só conheci a gentileza. Mas fiquei triste, pensando:
Há pouco mais de uma semana, encontrei a notícia de que estava doente, depois de que era grave, hoje me disseram que havia morrido. Foi muito rápido. Assim é a vida, não passa de um sopro.
Um dia você varre a calçada, no outro está morto. 
E a gente se desperdiça tanto, nesse tempo emprestado...

Dani Altmayer

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