domingo, 14 de fevereiro de 2016

Quase tudo


Na tarde cálida de janela fechada, o sol se insinua por entre frestas, brincando com as paredes nuas, arrancando da penumbra os sorrisos mais secretos.
A luz dourada faz outono em pleno verão, e eu perco a conta, os sentidos, a razão.
Dois, quatro, vinte, mil. Não importa.
Nenhum número é real. Todos se somam, se multiplicam, se dividem, se confundem.
Em mãos, pés, bocas, sabores. Cheiros, mordidas. Em água, epiderme, gelo.
Transbordam e molham.
Numa vertigem constante que me arrepia a pele, eu danço com o perigo no espelho.
Danço contigo.
Teu nome é perigo.
Eu me jogo, de cabeça e inteira, no precipício macio e duro do teu corpo em pelo.
Não tenho cordas, amarras, limites. Não tenho coragem nem medo.
Nada me prende além do teu peso em mim, tua respiração na minha.
 (Tua respiração é minha.)
Nenhum lugar existe fora do teu querer e do meu.
Em busca de ar, te agarro pelos cabelos para te levar junto ao fundo.
E flutuo numa nuvem de dor e de fogo, perdida, e solta, e livre. Leve, como nunca fui levada.
Escondo uma lágrima inédita e abafada, quase descabida.
Grito forte, antes de despencar. Antes de cair, e silenciar finalmente, no teu abraço grande, profundo e quente.
Quase morta- quase viva- quase tua.

Dani Altmayer

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