quarta-feira, 1 de julho de 2015

De olhos bem abertos



O Amante

Quando a Laura falou da venda, topei na hora. Não que a gente precise dessas coisas, o sexo é sempre ótimo. Topei porque ela topa todas, nunca vi, que mulher mais disposta. Não tem posição ruim, não tem fantasia impossível, não que a gente precise de fantasia, não precisa mesmo. A gente não precisa de acessório, tem pele, cheiro, carne, boca. E que boca mais gostosa tem a Laura. Outro dia ela me chupou no carro, a caminho do motel, muito bom.
Ela levou a venda em nosso último encontro. Primeiro ela colocou em mim, no início achei esquisito não poder abrir os olhos, ela ria, e dizia " fica quietinho, relaxa". Relaxei, e ela foi me cheirando, me tocando, bem de leve. Tinha olhado um vídeo de sexo tântrico no YouTube, a Laura curte essas coisas indianas. Depois de me tocar, eu já estava bem duro, ela me beijou por tudo. Em algumas partes se demorou mais... Eu estava quase explodindo, e ela dizia: "segura." Quando percebia que eu ia gozar, se afastava e pegava um gelo, passava na minha nuca. Uma loucura, esfriava na hora. Ela me explicou que era para retardar o orgasmo ao máximo. Não sei como, mas funcionou.
Depois foi a vez dela por a venda. Ela ainda estava vestida,  eu tirei sua roupa devagar, apreciando aquele corpo delicado, os seios pequenos. Quem vê não diz do que essa mulher é capaz. Ela sempre usa lingerie branca e tem um perfume bom, doce, cheiro de sexo. Acariciei seu corpo, mordi, lambi, ela gemia muito. Aquilo me deu o maior tesão. Não resistiu quando abri bem suas pernas e a beijei, gozou forte. Adoro vê-la gozar, se contorcendo, só para mim. Agora era eu quem não aguentava mais esperar. Deitei sobre ela, arranquei sua venda, e pedi que ela abrisse os olhos, para acabarmos junto, de novo, bem gostoso.
Para falar a verdade, eu curto mesmo é poder olhar. Mas foi até bem legal o lance da venda. Não que a gente precise dessas coisas. Nosso sexo é incrível, ela gosta de tudo comigo. E eu retribuo. Gosto de fazer a Laura feliz.


O Marido

Não entendi a história da venda que a Laura inventou. Aceitei para ver no que dava, coisa rara ela estar a fim de sexo. Tem sempre uma desculpa, uma dor de cabeça, uma cólica, sono. Ela não gosta muito da coisa mesmo. Até aquele livro, Cinquenta tons, eu dei um tempo atrás, para ver se atiçava. Ela se recusou a ler. "Muita asneira." Agora veio com esse papo, deve ser coisa da aula de yoga, essas bobagens de sexo tântrico. Desde quando, sexo é coisa sem frescura, eu acho. Mas enfim, na seca que a gente anda, se for para ser com venda, tudo bem. Até amarrado. Foi o que disse para ela.
Ela quis colocar primeiro em mim, que coisa bem esquisita isso de não poder enxergar, dá a maior aflição. O quarto estava impregnado do perfume enjoado da Laura, mais incenso e velas (outra frescura), e comecei a espirrar. Rinite. Reclamei, e ela apagou o incenso. Começou me cheirando e tocando bem de leve. Deu cócegas, não aguentei e desatei a rir. Ela se irritou e arrancou a venda dos meus olhos. Achei que ia desistir, mas não. "Faz você, em mim", ela disse.
Ficou ali deitada, magrinha, de lingerie preta. Há dois anos eu quis pagar um silicone, recusou. Coisa de mulher intelectual. Parecia o Zorro, e eu continuava com vontade de rir. Mas me segurei, e comecei a fazer carinho nela, apalpar, tirei sua calcinha. Ela abriu as pernas, fui entrando no clima."Mais devagar, mais suave."
Quantas vezes, de madrugada, acordei com vontade, fui me chegando "suavemente", e ela me empurrou, furiosa? Perdi as contas. Agora quer suavidade, tá bem. Pura invenção, essa venda. Sexo para mim é básico, simples, uns beijos na boca, uma chupada (dela), penetração e deu. Mas mulher tem essa mania de complicar.
Fiz como ela pediu, fui mais devagar, beijei, toquei, acho que funcionou, porque não demorou e ela arrancou a venda dos olhos, subiu em mim, morrendo de tesão e pediu: "acaba logo com isso. "
Foi bom, eficiente, gostoso. A gente não precisa mesmo dessas besteiras, dessas fantasias, é só a Laura estar com vontade.
O que até agora não entendi foi o balde com gelo, nenhum de nós estava bebendo. Ela também não quis explicar. Virou para o lado e dormiu.

Dani Altmayer

(Exercício para oficina de escrita criativa, última aula do semestre. Um objeto e dois diferentes pontos de vista)
   



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