domingo, 18 de junho de 2023

Bolo de chocolate


 Sábado à tarde, cinzento e frio.

Limpando o bloco de notas do celular, dei com uma receita de bolo, fitness, of course. Rapidinho, de micro-ondas. Preciso comprar cacau e fermento para testar a receita, o resto tenho em casa.
Às vezes, prefiro comprar o bolo pronto. Quase sempre. No super aqui, tem um de aipim que é uma delícia. Bolo-raiz. Mas bolo raiz mesmo é aquele de chocolate da infância, a que chamávamos nega-maluca, não pode mais e está tudo bem. Acho mais do que certo. Não sou da turma do "que saudade do meu tempo", ainda que já tenha idade para tanto e seja exatamente dessa turma. E desse tempo. Outro dia, uma amiga de infância me pediu a receita, por sorte eu estava em Porto Alegre, vasculhei um caderno amarelo e encontrei a receita desbotada, ainda legível. O sabor das tantas tardes cassineiras de chuva, dos cafés de chaleira na Quitéria, da forma onde não restava migalha para contar a história, daquele bolo delícia que a Pia fazia, mas a receita era da Amenaide, todas já idas há tantos e tantos anos. É engraçado como restam nas lembranças os cheiros e os gostos, já escrevi que a memória é uma célula olfativa, é uma papila gustativa. O bolo fitness pode até ser gostoso, e ainda vou experimentar, mas o amor de verdade acaba sendo isso, um bolo de chocolate recém saído do forno. Aconchego quentinho, na medida exata, ou mesmo exagerada, de açúcar e afeto. É que sou desse tempo, do doce de verdade. Dos que engordam o corpo, principalmente a alma.

2 comentários: