terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Viagens possíveis



 

De todas as coisas que a pandemia nos tirou, a que mais sinto saudade é de viajar.
Sei que sou privilegiada porque não perdi ninguém que eu amo para essa maldita doença, e agradeço todo dia por isso.
Também não sou a maior viajante do mundo, não. Mas quase todos os alguéns que amo moram longe de mim. Minhas viagens sempre são por afeto, mais do que por turismo. Hoje é dois de fevereiro, festa de Iemanjá. Passei dois dias dois em anos consecutivos, na Bahia, em Itacaré. Com meus amores. Foi lindo demais da conta.
Passei a maior parte dos dias dois de fevereiro da minha vida na minha praia, o Cassino. A praia repleta das oferendas devolvidas, os barquinhos com flores, uma religião que não entendo muito, cheia de simbolismos e tradições.
Eu não tenho religião, não mais.
Mas respeito profundamente todas as crenças, e hoje que não posso viajar, entro na viagem que é um livro, me deixo transportar para uma fazenda no interior daquela Bahia que só conheço pelo mar, para a história do Torto Arado, piso numa terra estranha, com uma gente sofrida, que vive, como tantos ainda, neste país tão desigual, em situação análoga à escravidão. 

Embarco na vida de duas irmãs, na doçura e no espanto de um lugar árido, duro, mas cheio de magias e encantamentos que me são tão diversos. Ainda estou na metade da minha viagem, não quero que acabe. É um livro belíssimo e já recomendo sem medo de errar.
Dois de fevereiro, um calor escaldante, longe da praia.A pandemia limitando nossos corpos. Mas os livros, sempre eles, libertam nossos espíritos e mentes.
Para a maior viagem de todas, que é viver a vida de um outro, sentir sua dor, sua alegria, e conhecer assim, o que ainda nos é estrangeiro.


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