sábado, 9 de janeiro de 2021

É o que temos


 

Ele tem um câncer de pulmão. Teve Covid em agosto, ficou internado, não precisou de UTI. Saiu bem, dentro do possível. Em acompanhamento com o pneumo, estava ativo, trabalhando. Ontem recebi a notícia de que havia se reinfectado. Entre agosto e dezembro, teve 2 PCRs negativos. Agora, positivo de novo. 

Ele é imunodeprimido, o mais provável é que não tenha criado anticorpos. 

 Ele é vulnerável, e como ele, muitos. Para pessoas imunocomprometidas, alérgicas, gestantes, para muitos tantos a vacina não será possível. Ou não será efetiva. E é neles que temos que pensar, quando usarmos nosso livre arbítrio de vacinar ou não. Quando usarmos nossa liberdade de ir e vir. Quando decidirmos ser responsáveis ou não, usar máscara ou não. Aglomerar ou não. 

Ontem, conversando com a filha dele, chorosa, preocupada, triste, comentamos o quanto ainda não sabemos sobre este vírus. O quanto estamos ainda aprendendo.

Hoje, aqui no plantão, atendendo muitas crianças com febre, com sintomas, fruto dos encontros de fim de ano, eu fiquei pensando sobre a origem da negação. Por que negamos o óbvio, por que é tão amargo o gosto das palavras "eu avisei?" - Sempre é. Melhor ser feliz que ter razão... 

Somos todos negacionistas até algum ponto, é da condição humana, creio eu. Somos todos hipócritas em algum momento, e principalmente, somos imperfeitos. Imperfeitos aprendizes de viver. "Atire a primeira pedra".

É duro lidar com tanta incerteza, com tanta angústia, com tantas restrições. Há quase um ano estamos num mundo estranho, muito estranho, mudado. É inegável, e ainda assim, negamos, que não temos o menor controle. É o que é, e por enquanto, até os cientistas descobrirem a cura, até a vacina fazer seu milagre (vacinas são grandes milagres), o que nos cabe ( ou devia caber), é aceitar. 

Aceitar, assimilar, cuidar. E usar nossas melhores qualidades da melhor forma possível: tapando o nariz e a boca. Pensando coletivo.

Porque o instante nos pede passagem. 

O vulnerável do início do texto, ele pode ser tu. Ou pode ser teu amor. 

(Negar é anestesia, e não cura)

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