domingo, 19 de abril de 2020

O caos dentro fora




O médico que descobriu que era importante lavar as mãos para evitar doenças infecciosas, ele foi internado num hospício. Não acreditavam nele.
Negacionismo não é de hoje, não. É coisa antiga, para qual ainda não acharam cura.
Que o digam os terraplanistas, os que duvidam que o homem pisou na lua, que acham que a NASA mente, que creem em teorias da conspiração, que vacinas fazem mal, e por aí vai.
Com estes não adianta conversar, são casos graves, e estas crenças precisam de muito mais do que conversa para se desfazer. Só com muita terapia e paciência.
Mas todo dia alguém bem intencionado me faz uma pergunta nova. Sobre se isso ou aquilo é verdade, funciona, se comer alho mata o vírus, se beber água a cada dez minutos, se o vinho protege mesmo, enfim, coisas que se originam sabe lá de onde, e se espalham pelo mundo mais rápido do que a infecção.
Eu respondo que não sei, provavelmente não, ou não teríamos já tantos milhares de mortos ao redor do planeta,
Quase nada sabemos, é tudo muito novo, são seis meses apenas, e neste momento, muitas cabeças privilegiadas estão pensando juntas, na tentativa de entender a história natural da doença, a fisiopatologia, o comportamento do vírus. Em busca de remédios, vacinas, respostas. Respostas que ainda não existem, que ainda não nos satisfazem, nem nos redimem, tampouco aplacam nossas angústias.
Outro dia um colega me perguntou o que eu achava do uso de tal medicamento.( Do tal) Eu respondi, não acho. Deixo para a ciência achar, procurar, testar. Médico não é cientista, na grande maioria. Eu não sou, e tenho a humildade de reconhecer o pouco que sei. 
A verdade é que eu também queria acreditar num milagre. Estamos todos à espera de um milagre. Mas ele ainda não veio, ele pode nunca chegar, e tudo o que sabemos por hora, é o que estamos aprendendo a cada dia. À custa de exemplos bons e ruins, muitos sacrifícios pessoais e coletivos, na base de erros e acertos, de muita dor, o que temos até agora é uma doença séria e invisível.
Negar que ela exista é como fechar os olhos para não ver um perigo. Não vai fazer com que desapareça.
Aceitar é a etapa mais difícil do luto, mas é fundamental para seguirmos em frente. Diante do inevitável, a escolha é só uma: quem queremos ser daqui por diante.
O que caminha às cegas à beira do abismo, ou o que abre os olhos e procura pela ponte pêncil possível?
É hora de encontrar a estrela dançarina, ressignificar o sofrimento, pensar fora de si.
Hora de, mais do que nunca, amarmos uns aos outros.
O que eu faço, então, além de trabalhar, cozinhar e limpar a casa?
Eu acredito na ciência, na força da solidariedade, no distanciamento social e nos bons hábitos de higiene.
Eu tenho tanto medo quanto tu.
E eu tomo própolis, para reforçar a imunidade. Fiz uma reposição empírica de vitamina D, vai quê.
Cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém, legumes e frutas menos ainda.
Tiro os sapatos quando chego em casa, troco de roupa. Escovo os dentes no mínimo três vezes ao dia. Faço exercício na sala. Leio meu livro, choro no chuveiro, dou uma surtada. Bato umas panelas.
E rezo baixinho.
Por um milagre. Da ciência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário