sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Réquiem para dezembro



Olhos que não enxergam, ouvidos que não escutam, bocas que não beijam.
Palavras sem sentido.
No correr de dezembro, nada faz sentido.
E ainda o barulho, as buzinas, os pensamentos.
Todos os arrependimentos e a corrida insana contra o tempo.
A insistência. Um quê de desespero.
Desencontros embrulhados para presente.
O verde e o vermelho, a ilusão da neve fria, o asfalto quente. O desastre da árvore, as luzinhas escassas, a estrela solitária.
O trânsito, a pressa, a desatenção.
Os flamboyants em fogo.
A batida na esquina de casa, o estrondo, o susto. O pulo do cachorro, o descaso do gato.
Os plantões, os boletos, os desenganos. As lembranças e a saudade. Meia dúzia.
Em sacolas.
Inutilidades caras, algum afeto, nenhuma garantia.
Dezembros e abandonos.
Boas intenções e panetones secos, frutas cristalizadas, aquela desgraça.
Os cheiros e os gostos de outros Natais. Quando alguma coisa ainda fazia algum sentido, a salada de maionese era com e sem maçã e o molho tinha nome estrangeiro.
Os ruídos, o tumulto, a multidão. A farofa.
O peru, as nozes, os nós. As passas famigeradas e os brindes inesperados.
O calor exasperante.
A esperança agendada.
Um mar e a areia.
E depois, janeiro.
O respiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário