domingo, 7 de julho de 2019

Perdão





Perdoa minha falta de tato, minha falta de jeito, meu olhar assustado.
Perdoa meu julgamento apressado, esse meu jeito de ver o teu mundo, distorcido pela ótica do meu.
Desculpa esse lugar de estranheza, esse altar de onde te observo e não te posso alcançar, desculpa as minhas fronteiras, limites, trincheiras.
Perdoa meu medo do estrangeiro de ti, do estrangeiro em mim, do estranho em nós.
Perdoa se me falta a delicadeza de te ouvir na língua que não compreendo, a tua, se nem tento entender teu país.
Desculpa não atender teus apelos, não respeitar teus quereres, perdoa minha soberba, minha vaidade exposta e a escondida, vaidade em pele de cordeiro.
Perdoa as certezas erradas, encrustadas, perdoa a razão que eu gosto de ter.
Desculpa se me falta a fineza de não te inventar, se minhas lentes embaçam tua cor, se meus desejos te moldam, me revelam e nos deformam.
Desculpa minha hipocrisia, minha falta de empatia, a empáfia que não me permite te enxergar.
Perdoa todas as vezes que penso em ser teu vigia, perdoa a dureza que visto no peito, as palavras que profiro sem te escutar.
Desculpa as feridas que sangro, as cascas que arranco, as oportunidades perdidas -de ficar calada para somente te ouvir.
Perdoa essa falta de silêncio e sol.
Desculpa o desequilíbrio, a ausência de abrigo, as brigas sem fim. A falta de abraço, de toque, o cansaço.
Desculpa esse meu egoísmo de te pensar igual e não outro, espelho quebrado, perdoa a indiferença, as doenças que matam. A raiva, a dor, o medo. Perdoa.
Me perdoa toda injustiça desses tempos de condenações antecipadas, as crenças, preconceitos e prejulgamentos- mais rápidos que a luz, me desculpa se sou teu juiz.
Perdoa as bandeiras vermelhas, as amarelas e as verdes, desculpa todas as bandeiras que nos separam,  dividem e não te incluem. Bandeira branca, amor. Te quero paz.
Perdoa a minha cegueira. É que a trave no meu olho é a única que não enxergo, ou não quero enxergar.


Daniela Altmayer

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