domingo, 5 de maio de 2019

O nevoeiro de domingo




Sento na pedra do Iberê sob o sol do veranico, o rio- lago reflete o azul do dia em pontos prateados, ao longe uma neblina encobre o centro e turva o perfil histórico dos edifícios.
São as brumas de Porto Alegre- acho linda essa palavra-que brotam da água e do calor e ficam suspensas no ar, feito um véu sobre a cidade nua.
Paro ali para abastecer os meus olhos de lágrimas, sou de uma terra líquida onde o doce e o sal se confundem, cresci entre velas e vento, preciso de oceanos para prosseguir. Me contento com o rio, na falta do mar. Lago.
Há tantos corpos que suam. O meu também.
Pedalo de volta devagar, porque domingo não é dia de se andar apressada, e porque está quente, que diabo de outono esse, é maio mas ainda não chegaram as frentes que trazem o frio e a sopa ( já fiz, mas foi por teimosia). Estão atrasadas esse ano.
Nas esquinas das ruas eu paro, escuto, eu olho. Lembro dos trilhos de trem, nas encruzilhadas da minha infância.
Nem tudo consigo ver, e, mesmo quando vejo, não consigo entender muito bem o que vejo e porquê.
Minha cabeça se enche então de nuvens. São as brumas.
As brumas de Porto Alegre, nas esquinas da minha rua.

Passa o dia e vem a chuva, do tipo que faz tremer a menina da poesia, só que rápida, depois dela vem o silêncio sem frio, sem frente, a noite antecipa a chegada e abro um livro, sempre ele. Sempre ela, a Clarice, para me salvar dessa minha melancolia
Com a sua.

Daniela Altmayer

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