domingo, 10 de fevereiro de 2019

Masculinidade tóxica




Nossos meninos não estão seguros. 
A masculinidade tóxica é uma doença a ser prevenida, antes de mais nada. 
Desde os primeiros dias, no embalo do colo, no tom de voz carinhoso e macio, no acolher de qualquer choro, seja por um joelho ralado ou um coração partido, nos limites claros e precisos, no respeito ao corpo -próprio, e alheio, na brincadeira que não compete, não humilha, só diverte, diverge, na participação, na divisão justa, na rotina, no lavar uma louça, arrumar um armário, segurar uma mão, no dizer eu te amo, não ensinando vergonhas, nem orgulhos, na não violência, no exemplo do bem, na firmeza do afeto, no pertencimento ao mundo, não como superior, não mais forte, um igual com características próprias, nem homem, nem mulher, apenas um alguém, nenhum papel pré-moldado, nenhuma agressão a ser aceita, revidada ou deferida, ninguém nasce um macho escroto que não se conforma com fim de namoro, que se acha dono do corpo do outro e da outra, que ataca e agride por coisa nenhuma, que quebra o nariz de um menino, que desfacela, desmancha, fratura o rosto de outro, que chuta, arrebenta, bate, covarde e insistentemente num garoto caído, que acaba com uma festa, um sonho, uma família em minutos, segundos, ninguém nasce assim, não, ninguém, mas se aprende a ser isso ou coisa pior, e hoje eu não quero falar que as meninas estão em risco, sabemos que estão- e muito, pelo mesmo motivo torpe e vil. 
Hoje eu quero falar como mãe de menino, para outras mães ( e pais) de menino, para esses pequenos que ainda não foram envenenados, que ainda podem tomar pequenas doses de antídoto diárias, que ainda podem aprender que a força está na delicadeza, na sensibilidade, no respeito, não no murro, na faca, na arma, no músculo, para que elas, as mães - e eles, os pais- não precisem, daqui a alguns anos, chorar ao lado de uma cama de hospital, acalmar pesadelos, acompanhar numa delegacia ou, ainda pior, ver seus filhos serem mortos pela droga da masculinidade tóxica que alguns ainda insistem em negar que exista.
Combater, sim, mas antes de tudo, prevenir. Prevenir antes do que remediar, sempre. É essa a parte que nos cabe, e não me cabe calar.
Porque sim, porque ela fere, ela mata, e ela dói. 
Está doendo muito.

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