quinta-feira, 11 de junho de 2015

Ponto forte


Quando os porquinhos construíram suas casas de palha e madeira, eles sabiam-se vulneráveis, pois o sopro do lobo era muito forte. Por que então, colocaram-se em situação de risco, se poderiam ser feridos?
Quando a cigarra cantava, despreocupada, ela sabia que o inverno viria. Por que a cigarra não se precaveu para o frio, tornando-se vulnerável ao vento e à neve que fatalmente chegariam?

Preguiça, luxuria, prazer. Falta de opção, são tantas opções. Gosto pela aventura. Fome de viver. Pavor de muros e mortalhas. Aceitação do risco. Amor, liberdade. Amor e liberdade.
Burrice mesmo. Paixão. Insanidade. 

Vulnerável: algo ou alguém que está suscetível a ser ferido, ofendido ou tocado. Aquilo que pode ser destruído, derrotado, frágil. Sinônimos de vulnerabilidade: fragilidade, fraqueza, insegurança.
Que me desculpe meu amigo dicionário, ele nem sempre tem toda a razão. Por ele, não há beleza na vulnerabilidade, tampouco força, muito menos coragem. A única concessão que ele faz é pela delicadeza. Permita-me então, optar.

Todo mundo é vulnerável, em algum ponto.
Ou é, ou está. Em algum tempo.

Quando conheci você, eu sabia. Que a minha casa era de palha, e o seu sopro era forte.
Sabia que minha madeira pegaria fogo.
Sabia que o verão acabaria, em breve. E com ele, a provisão.
Que a fome viria, em saudade.
Sabia que, no instante em que você tocasse a minha pele, eu me dissolveria. Deixaria de existir.
Nada mais frágil do que não existir.
Sabia que não haveria rede de proteção, nem telhado ou abrigo.
Sabia que, ao ser sua, eu me veria exposta.
Absurda e completamente nua.
Nada mais vulnerável do que a nudez.
Sabia o que aquela madrugada seria. Um fim, sem resposta.
Um fim sem um fim.

Ainda assim,  eu preferi a música ao silêncio. 
Porque, sei lá, eu gosto de barulho, de força, de vento.
Ah, coragem? Não.
Insensatez.
 
É que no amor eu sempre escolho ser tocada.
O risco extremo, da delicadeza.

Dani Altmayer 
( Mais um desafio)


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