quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Assim na terra como no céu

  Ela é assim. De longe até parece normal. Nada muito esquisito ou diferente, nada que chame atenção. Vive uma vida comum e faz coisas comuns, todos os dias. Come, trabalha, dorme, se diverte, briga, ama, detesta, coisas que todo mundo faz. E ela faz também, bem certinho. Nem dá para perceber.

  Nem dá para perceber que ela acorda todo dia com a cabeça cheia de sonhos. Que todo dia, quando abre os olhos, ela reza um pouco, agradece um muito e tem a nítida sensação de que algo vai acontecer. Algo diferente. algo bom. Levanta da cama sempre animada, ainda que morrendo de sono. Toma um banho demorado, e sai, perfumada de esperança, todas as manhãs. Quase todas, porque algumas vezes, tem tanta coisa chata acontecendo, ou ela está tão triste que esquece de acreditar. De vez em quando seu coração fica partido. Nestes dias ela dói, e acorda chorando. Acontece, mas é exceção. A regra é o dia nascer e ela nascer também, junto com o dia, todos os dias. Junto com o infinito de coisas que ela espera, e acha, e sonha que podem acontecer. Coisas boas.

   Ela lê todos os horóscopos, e tarôs e céus da semana, e lê sobre ciclos lunares e energias e marés. Acredita em tudo. Cinco minutos depois já esqueceu.Tudo. E lá foi ela ganhar dinheiro, pagar conta, fazer feira, abdominais e depilação. Passa os dias assim, entre pensamentos que voam, coração cheio de sol, cabeça nas nuvens e pés no chão. Cumprindo tarefas e vivendo do cotidiano. Não lê o jornal, não vê TV, não gosta de política nem de novela. Não gosta de nada que atrapalhe sonhos. Gosta do que faz bem para a alma. De longe, nem se percebe. Que ela mora em dois mundos.

  E faz tudo quase igual, todo dia. Mas sonha diferente, todos os dias. Assim ela vai levando a vida, um pouco lá, um pouco cá. No mundo da lua e no mundo real (?). Às vezes seus dois mundos se encontram. E algo diferente acontece. Algo especial. Algo bom. Quase sempre não. Geralmente ela vai dormir, cansada de fazer, de tantos afazeres, ao fim de um dia comum. Ela fica frustrada, uma ou outra noite. Mas passa, logo, e ela sempre pensa, amanhã é outro dia. Otimista, ela não desiste. E renova, de madrugada, seus sonhos e sua mágica. Sua fé. Para começar tudo de novo, e de novo, no dia seguinte e no outro também.

  Assim ela aguenta o tranco, e vai levando.Vive, um pouco lá, um pouco cá, se equilibrando. Esperando colher estrelas e frutas doces. Entre o céu e a terra, desejando que se encontrem de vez em quando. Seus dois mundos, tão diferentes.
E de longe nem se percebe. Ela parece tão comum, banal. Mas de perto, ah, de perto você logo vê.
Tem algo estranho. Repara, ela é um pouco doida. Acredita em sonhos, em anjos. Acredita em Deus, ou no Universo, como costuma dizer. Acredita até nas pessoas. Em almas e corações e energias. Confia, tem fé. Acha que a vida é boa, em geral. E é.
Um pouco ingênua, ela é.
Não, de longe não dá para dizer.
De perto ela pode parecer louca, de pedra. De perto, quem não é?
Parece boba. Mas isso ela não é.

Dani Altmayer

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