segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Sete

 



Sento para meditar e ela se acomoda entre as
minhas pernas, ronronando. O som suave me acalma, lembra um mantra de paz, ela dorme e eu divago. Não sei silenciar a mente- raramente. Muitos pensamentos, lista de coisas para fazer, mesmo neste feriado embuste.
Alguém varre a calçada lá fora, ouço o som seco da vassoura no chão molhado. A chuva deu um tempo.
Ontem à noite um pássaro cantava. Onze horas e aquele canto solitário, pungente. Fazia silêncio de outro jeito, não lembro de ouvir pássaros, à noite.
Talvez eles tenham começado a confundir os relógios, como nós, no meio desta infindável pandemia.
Estou na metade do livro da Ferrante, é, como sempre, forte. Ela me captura todas as vezes. E me incomoda bastante.
Esta madrugada sonhei com a minha mãe e a casa do Cassino, depois sonhei com a Inglaterra, meu pai, a não mais tão pequena Isabella, meus irmãos. Minhas saudades todas me visitaram no sonho. Foi bom, mas agora há um manto cinza de melancolia, como o deste céu monocórdico sem nuvem ou nuance.
Preciso levantar, pegar o note, escrever um poema irônico- ideias, onde se escondem, do que se alimentam- como sobrevivem?
Mas a gata se espreguiça e volta a dormir, quem tem, sabe: quando um gato está no seu colo, é proibido se mexer até alguma ordem em contrário.
Estou presa, neste instante.


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