domingo, 6 de outubro de 2019

Exílios




Três poemas e a melancolia acentuada pela economia das palavras
Todos os poemas têm um traço de dor, uma pitada de tristeza, não seriam poemas se o poeta não fosse, em alguma instância, alguém que capta o sofrimento do mundo, qualquer mundo, pequeno ou grande, particular ou não, não fosse o poeta ele mesmo um sofredor, ou apenas alguém que finge a dor como ninguém. Portanto, uma poeta, eu, quanta pretensão, é também uma fingidora. Sou. 
Se no zodíaco houvesse uma representação para a poesia, ela seria de câncer- ou de peixes- por seu jeito de olhar, pelo drama, pela lua. Jamais seria de leão, se fosse seria aquela poesia exibida e cheia de si, toda alegre e vaidosa, que cansa já no segundo verso, de capricórnio também não, ainda que haja beleza na concretude, ai de quem disser o contrário, uma pedra no caminho nunca será uma pedra no caminho de quem sabe usar as palavras e ressignificá-las. Uma pedra vai ser sempre outra coisa nas mãos da poesia. Mas nunca para um capricorniano.
Três poemas tristes.
Leio que a melancolia é um estado mais grave que a tristeza, um vazio que não pode ser preenchido, um abandono de si mesmo. Outro dia, por causa de um conto no livro novo, me perguntaram se eu era melancólica. Não sou, quase nunca, só quando escrevo. Aí sou, então. Quase todo o tempo.
Três poemas.
O saldo do domingo, para a segunda. O tema: exílio, estranhamento, desapego.
Meu jeito de ver as coisas: aceitar a tristeza que se esconde em cada alegria. Se na minha escrita tem dor, mágoa não há.
Um dia já falei que escrever era meu jeito de chorar, de botar para fora. Não deixando que a melancolia tome a forma do meu corpo, e nem que tome conta de mim, ela se transforma nas palavras que eu verto, na sempre complexa tentativa de traduzir alguma coisa- e entender.


Daniela Altmayer




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